Declarações de Merz sobre mísseis capazes de atingir a Rússia geram impasse na Alemanha

Confusão sobre possível envio dos mísseis Taurus à Ucrânia ofusca visita de Zelensky e expõe divisão dentro do governo alemão

A visita do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a Berlim, nesta quarta-feira (29), ocorre em meio a uma crise política provocada por declarações do chanceler alemão Friedrich Merz sobre o possível envio de mísseis Taurus à Ucrânia. Os armamentos, com alcance superior a 500 quilômetros, permitiriam a Kiev atacar alvos em território russo, o que levou aliados do líder a manifestarem contrariedade. As informações são do site Politico.

Na segunda-feira (27), Merz afirmou que os aliados ocidentais “não impõem mais limitações de alcance para as armas entregues à Ucrânia. Nem os britânicos, nem os franceses, nem nós. Nem os americanos também”. A fala foi interpretada como sinal verde para o envio dos mísseis Taurus, algo que o governo anterior havia evitado por receio de escalar o conflito com uma potência nuclear.

O chanceler alemão Friedrich Merz (ao centro), dezembro de 2024 (Foto: President Of Ukraine/Flickr)

A repercussão negativa levou Merz a se retratar no dia seguinte. Ele declarou que estava apenas descrevendo uma prática já adotada por outros países: “Algo que vem acontecendo há meses, ou seja, que a Ucrânia tem o direito de usar as armas recebidas, inclusive além de suas fronteiras, contra alvos militares em território russo”.

A confusão gerou críticas dentro da própria União Democrata-Cristã (CDU), partido liderado por Merz. “Não há sinais de que a Alemanha vá finalmente entregar os mísseis Taurus, porque ainda não vejo unidade na coalizão nem vontade política de responder de forma adequada e consistente à enorme escalada da Rússia”, escreveu o deputado conservador Roderich Kiesewetter na rede social X, antigo Twitter. “Essas declarações não ajudam em nada, pois apenas evidenciam a fraqueza da Europa diante da Rússia.”

Kiesewetter, entretanto, se posicionou a favor da entrega dos mísseis. “Os Taurus poderiam oferecer alívio, ao menos em parte, e assim proteger a população civil na Ucrânia, se fornecido em número suficiente. Uma resposta massiva contra a Rússia é necessária agora para manter a credibilidade”, disse.

A hesitação da Alemanha contrasta com as decisões de EUA, França e Reino Unido, que já forneceram mísseis de longo alcance e autorizaram o uso em território russo. O ministro das Finanças alemão, Lars Klingbeil, do Partido Social-Democrata (SPD), afirmou que “não há nenhum novo acordo que vá além do que o governo anterior já havia estabelecido”, mantendo a posição cautelosa do governo alemão, que vem desde o mandato de Olaf Scholz.

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