Destruição cultural na Ucrânia vai reverberar por anos, alerta especialista da ONU

Relatora especial sobre direitos culturais diz que existe atualmente uma ameaça existencial a toda a vida cultural da Ucrânia

A tentativa de destruição da cultura histórica da Ucrânia por meio da invasão das forças russas terá um impacto devastador no ritmo de recuperação no pós-guerra. O alerta foi feito na quarta-feira (25) por Alexandra Xanthaki, especialista independente da ONU (Organização das Nações Unidas).

“O questionamento e a negação da identidade e da história ucraniana como justificativa para a guerra é uma violação do direito dos ucranianos à autodeterminação e seus direitos culturais. A autoidentificação é a expressão primordial desses direitos. Todas as discussões, pelos Estados e nas mídias sociais, devem respeitar isso”, disse a relatora especial sobre direitos culturais.

Segundo Xanthaki, a perda considerável do patrimônio cultural e a destruição de artefatos culturais são preocupantes para a identidade dos ucranianos e das minorias no país e afetariam o retorno a uma sociedade multicultural pacífica após o fim da guerra.

Monumento é transformado em trincheira na cidade ucraniana de Odessa (Foto: Twitter/Reprodução)

Ela expressou sua preocupação com os danos infligidos pelas forças russas nos centros das cidades, locais culturais e monumentos e museus, que abrigam coleções importantes.

“Tudo isso faz parte da identidade das pessoas na Ucrânia. Sua perda terá um efeito duradouro”, disse a especialista, que compartilhou a preocupação da agência cultural da ONU, a Unesco, de que existe uma ameaça existencial a toda a vida cultural da Ucrânia.

De acordo com a relatora, os direitos culturais de todos os indivíduos, ucranianos, russos e outros membros de minorias que vivem na Ucrânia, na Federação Russa e em outros lugares, devem ser totalmente respeitados e protegidos.

“À medida que as batalhas continuam, não estamos completamente impotentes”, disse ela. “Além de lembrar que as regras do direito internacional humanitário e dos direitos humanos devem ser escrupulosamente aplicadas por todas as partes do conflito, devemos garantir que a cultura nos ajude a dignidade e não é usado como meio para perseguir e alimentar a guerra”.

Xanthaki afirmou que a questão cultura precisa ser sempre levada em consideração na guerra. “Muitas vezes não medimos o quão devastadoras as violações dos direitos culturais podem ser para a paz”, disse. “Tentativas contra liberdades acadêmicas e artísticas, direitos linguísticos, falsificação e distorção de fatos históricos, difamação de identidades e negação do direito à autodeterminação resultam em mais degeneração e alimentam o conflito aberto”.

A especialista ainda prestou homenagem aos muitos profissionais culturais da Ucrânia dedicados à proteção do patrimônio do país, que estão usando poderosas expressões artísticas, contra a guerra e a favor da paz. E expressou seu pesar pela exclusão indiscriminada de artistas russos de eventos culturais.

“Estou entristecido pelas inúmeras restrições que afetam os artistas russos em retaliação às ações do governo russo, bem como pela desprogramação de obras de arte às vezes centenárias de escritores ou compositores russos”, declarou.

Xanthaki citou relatos de músicos russos impedidos de se apresentar ou participar de competições, e de artistas russos sendo solicitados a tomar partido publicamente. “É especialmente nesta situação de desumanização contínua que a cultura e os direitos culturais devem ser visíveis e impulsionar visivelmente a humanidade, a empatia e a coexistência pacífica”, disse ela.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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