Desde o início da guerra da Ucrânia, famílias russas que recebem corpos de soldados mortos são proibidas pelas autoridades de abrir os caixões para verificar a identidade dos restos mortais. O veto tem gerado suspeitas e reclamações, principalmente porque não há justificativa oficial clara para a proibição. Além disso, diversos casos de erro na entrega dos corpos já foram registrados, obrigando parentes a exumar os caixões para tentar corrigir os enganos. As informações da rede Radio Free Europe (RFE).
Estudos independentes estimam que até 250 mil soldados russos morreram na guerra, mas o governo não divulga números oficiais sobre os mortos. Muitas famílias relatam receber documentos incompletos ou até papeis escritos à mão junto com os caixões, além de não receberem os pertences pessoais dos falecidos. Isso aumenta as dúvidas e a insegurança sobre a veracidade das informações.

Valeria Mikhailova, de Armavir, na região de Krasnodar, enterrou em maio o corpo de seu marido Maksim, contratado militar de 23 anos, sem poder abrir o caixão ou confirmar a autenticidade dos restos mortais. “Eu implorei para me mostrar pelo menos uma foto do corpo [antes de ser colocado no caixão] para ver como era, mas não tinham nenhuma. Também não nos permitiram fazer um exame de DNA”, disse Valeria, que teme ter enterrado outra pessoa.
A mãe de Maksim, Valentina Mikhailova, afirma que as versões oficiais sobre a morte e identificação de seu filho foram contraditórias. “Disseram que o corpo foi identificado por companheiros e comandante e que não era necessário exame de DNA. Depois, soubemos que o filho deles havia desaparecido e que não houve identificação alguma”, declarou. Ela também questiona o papel manuscrito recebido que afirma que o filho “morreu em uma explosão” e reclama da ausência dos pertences pessoais do filho.
Outro episódio ocorreu com a família de Ivan, um soldado de Yekaterinburg, que precisou realizar dois funerais em janeiro de 2024 após receber inicialmente os restos mortais de outra pessoa. Em Buriatia, a família do contratado Sergei K. recebeu um atestado de óbito e o caixão, mas depois foi surpreendida por uma ligação do próprio Sergei, vivo e hospitalizado.
Do outro lado do front, autoridades ucranianas denunciam que a Rússia devolve corpos em estado mutilado, com partes do mesmo cadáver em sacos diferentes, dificultando a identificação e o processo de repatriação. O ministro do Interior da Ucrânia, Ihor Klymenko, afirmou que essas práticas parecem ser deliberadas para impedir a correta identificação durante as trocas entre os países.