Petteri Orpo, primeiro-ministro da Finlândia, acusou nesta semana a Rússia de enviar pessoas em busca de asilo à fronteira entre os dois países, para que tentem ingressar na Europa através do território finlandês. As informações são da agência Reuters.
De acordo com o chefe de Estado, são indivíduos sem documentação que normalmente sequer poderiam entrar na Rússia, mas atualmente recebem tal autorização somente para que sejam enviadas à fronteira.
“É claro que estas pessoas são ajudadas e também estão sendo escoltadas ou transportadas para a fronteira por guardas fronteiriços”, disse Orpo, que prometeu adotar todas as medidas cabíveis para resolver o problema. “Nossa mensagem no governo é clara: queremos garantir a segurança da nossa fronteira oriental.”
Somente nesta semana foram registradas mais de 60 chegadas de requerentes de asilo à Finlândia a partir da Rússia, um número muito superior ao habitual. Antes disso, entre os dias 1º de agosto e 12 de novembro, as autoridades finlandesas registraram um total de 91 casos.
O presidente finlandês Sauli Niinistö, por sua vez, classificou a ação russa como “vingança” pelo fato de Helsinque ter aderido à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
“Agora somos constantemente lembrados todos os dias de que a Finlândia aderiu à Otan. Acho que desta vez talvez tenha sido o DCA (acordo de cooperação em defesa) que desencadeou a situação”, disse ele citando o pacto de adesão à aliança militar transatlântica, de acordo com o jornal The Guardian.
Assim como Orpo, Niinistö prometeu resolver o problema. “Agora entendo que não terminará por si só”, declarou. “Não vejo o tráfego fronteiriço terminando de outra forma que não com uma ação finlandesa muito clara.”
Crise na fronteira
Prevendo o que poderia se tornar um problema, o governo finlandês já havia aprovado uma lei que autoriza os agentes de fronteira a recusarem pedidos de asilo caso fosse registrado um aumento drástico no número de casos.
Agora, de acordo com a ministra do Interior Mari Rantanen, o país europeu debate a possibilidade de inclusive fechar alguns dos pontos de fronteira com a Rússia por onde o volume de entradas é maior.
A medida levou a uma reação russa citada pelo jornal The Moscow Times. “Lamentamos profundamente que a liderança finlandesa tenha optado por se afastar deliberadamente do que costumavam ser boas relações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na quarta-feira (15).
Finlândia e Rússia compartilham uma fronteira de cerca de 1,34 mil quilômetros, a mais longa entre os países da União Europeia (UE) e o território russo. A crise na divisa entre os dois países teve início em 2022, após a invasão da Ucrânia pelas tropas russas.
Em setembro do ano passado, sete meses após o início da guerra, a Finlândia registrou uma escalada migratória de cidadãos russos, reflexo da mobilização militar parcial anunciada no mesmo mês pelo presidente Vladimir Putin, que assim passou a recrutar homens para suas Forças Armadas.
Helsinque, então, aprovou o fechamento das fronteiras aos turistas vindos da Rússia, seguindo o exemplo de restrições já adotadas anteriormente pela Polônia e por países bálticos. Mais tarde, em março deste ano, foi iniciada a construção de um muro na divisa.
Agora, com o fluxo de russos controlado, o novo problema é protagonizado por cidadãos de outras nacionalidades requerentes de asilo. Situação semelhante à enfrentada pela Polônia a partir de 2021, quando Belarus, um aliado da Rússia, passou a enviar migrantes de diversas origens à fronteira, a fim de tentar gerar uma crise na UE.