Finlândia fecha toda a fronteira com a Rússia para conter a nova crise de migração

Indivíduos de várias nacionalidades em busca de asilo vinham sendo enviados por autoridades russas à divisa com o território finlandês

A Finlândia anunciou que até quinta-feira (30) concluirá o fechamento do último ponto de fronteira com a Rússia que ainda seguia em operação. A medida visa conter o fluxo de pessoas em busca de asilo que vêm sendo propositalmente enviadas pelas autoridades russas para ingressar no país escandinavo. As informações são da rede CNN.

Finlândia e Rússia compartilham uma fronteira de cerca de 1,34 mil quilômetros, a mais longa entre os países da União Europeia (UE) e o território russo. A crise na divisa entre os dois países teve início em 2022, após a invasão da Ucrânia pelas tropas russas.

Em setembro do ano passado, sete meses após o início da guerra, a Finlândia registrou uma escalada migratória de cidadãos russos, reflexo da mobilização militar parcial anunciada no mesmo mês pelo presidente Vladimir Putin, que assim passou a recrutar homens para suas Forças Armadas.

Helsinque, então, aprovou o fechamento das fronteiras aos turistas vindos da Rússia, seguindo o exemplo de restrições já adotadas anteriormente pela Polônia e por países bálticos. Mais tarde, em março deste ano, foi iniciada a construção de um muro na divisa.

Fronteira entre a Rússia, em Svetogorsk, e a Finlândia, em Imatra (Foto: Alexei Ivanov/WikiCommons)

O problema, entretanto, não foi solucionado. Segundo Helsinque, a nova onda migratória é uma “ameaça híbrida” orquestrada por Moscou para pressionar o país vizinho com o envio de migrantes de diversas nacionalidades. A situação já havia levado ao fechamento de outros oito postos de travessia, sendo que o último, em Raja-Jooseppi, na Lapônia, será fechado agora.

“A Rússia está permitindo a instrumentalização das pessoas, guiando-as até a fronteira finlandesa em condições rigorosas de inverno. A Finlândia está determinada a pôr fim a este fenômeno”, disse em comunicado o primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo. “Esta é uma atividade organizada, não uma emergência genuína”, acrescentou.

De acordo com o Ministério de Assuntos Internos da Finlândia, o fechamento será mantido até pelo menos o dia 13 de dezembro. Nesse período, quem quiser ingressar no território finlandês a partir da Rússia terá que usar portos e aeroportos, conforme relatou o jornal The Guardian.

Ao comentar a medida, a ministra do Interior finlandesa, Mari Rantanen, disse que seu país “é alvo de uma operação híbrida russa”, acrescentando que se trata de “uma questão de segurança nacional.”

A crise gerou uma manifestação inclusive do secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, que enxerga o problema como uma resposta russa ao apoio que a aliança, da qual a Finlândia agora é membro, tem dado à Ucrânia.

“Penso que este é outro exemplo de como a Rússia está utiliza muitas ferramentas diferentes para pressionar os vizinhos. Nós os temos visto usar a energia, a usar ataques cibernéticos, usar diferentes tipos de operações clandestinas para tentar minar nossas democracias”, disse ele.

Em resposta, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, classificou a medida como “irracional” e destacou que inclusive os cidadãos finlandeses serão prejudicados. “Podemos comentar algumas decisões racionais, depois podemos procurar algum tipo de lógica. Mas por vezes as decisões são simplesmente irracionais”, declarou.

Segundo dados divulgados pela Finlândia, ao menos mil pessoas de nacionalidades diversas tentaram ingressar no país escandinavo sem visto desde setembro através da fronteira oriental com a Rússia.

“Nestas circunstâncias muito excepcionais, o encerramento total a curto prazo da fronteira oriental é uma medida necessária e proporcional para pôr fim a este fenómeno e limitar as graves consequências que tem para a segurança nacional e a ordem pública”, disse o Ministério do Interior finlandês.

Crise na fronteira

Prevendo o que poderia se tornar um problema, o governo finlandês já havia aprovado uma lei que autoriza os agentes de fronteira a recusarem pedidos de asilo caso fosse registrado um aumento drástico no número de casos.

Agora, de acordo com a ministra do Interior Mari Rantanen, o país europeu debate a possibilidade de inclusive fechar alguns dos pontos de fronteira com a Rússia por onde o volume de entradas é maior.

A medida levou a uma reação russa citada pelo jornal The Moscow Times. “Lamentamos profundamente que a liderança finlandesa tenha optado por se afastar deliberadamente do que costumavam ser boas relações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na quarta-feira (15).

Agora, com o fluxo de russos controlado, o novo problema é protagonizado por cidadãos de outras nacionalidades requerentes de asilo. Situação semelhante à enfrentada pela Polônia a partir de 2021, quando Belarus, um aliado da Rússia, passou a enviar migrantes de diversas origens à fronteira, a fim de tentar gerar uma crise na UE.

Tags: