Hospital de Kiev luta para cuidar de pacientes em meio a ataques aéreos

Mesmo recém-nascidos internados na UTI precisam ser removidos às pressas quando os bombardeios ameaçam a instalação de saúde

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Oksana, que está grávida de 26 semanas, descreveu uma cena angustiante em um hospital de Kiev, na Ucrânia, durante ataques aéreos, com a equipe correndo para ajudar pacientes e recém-nascidos a irem para abrigos.

“Quando o alarme disparou, fomos todos levados às pressas para o abrigo”, disse ela. “Até os menores bebês da unidade de terapia intensiva neonatal foram trazidos para baixo por enfermeiras e auxiliares, que os carregaram gentilmente porque eles são muito frágeis para as mães movê-los sozinhas.”

Enquanto uma onda massiva de ataques aéreos russos atinge a Ucrânia, inclusive infraestruturas críticas, causando danos e vítimas generalizados, a equipe e os pacientes do Centro Perinatal Regional de Kiev lutam para cuidar das mães recentes e futuras, com pouco ou nenhum acesso à eletricidade.

“É estressante ver, especialmente à noite, quando todos já estão nervosos”, disse Oksana, segurando as lágrimas. “É incrivelmente difícil. Minha família e a família do meu marido estão em Sumy, onde explosões são uma ocorrência diária. Estou constantemente preocupada com elas, e isso definitivamente afeta minha saúde e bem-estar.”

Hospital Infantil Okhmatdyt destruído por ataque russo (Foto: WikiCommons)
Ataques aéreos desencadeiam complicações

Para Yuliya, outra futura mãe de Irpin, na região de Kiev, isso se tornou rotina. “Fui trazida aqui por causa de complicações exacerbadas pelo estresse e ansiedade constantes dos ataques”, explicou. “Os ataques contínuos, os alarmes, eles têm um impacto profundo tanto no bebê quanto na mãe. Não é só sobre mim. É sobre meu filho ainda não nascido. A ansiedade de saber que um ataque pode acontecer a qualquer momento é indescritível.”

Yuliya falou sobre sua rede de apoio, chamando seu marido, amigos e familiares de “meus pilares”. E acrescentou: “Tentamos manter a esperança, mas é difícil não pensar no tipo de futuro que espera nossos filhos.”

Enfrentando bombas e instabilidade constante

À medida que os ataques continuam a atingir a Ucrânia, visando cidades e a infraestrutura energética do país, a equipe e os pacientes do hospital enfrentam instabilidade constante.

“Mulheres grávidas já estão em um estado emocional delicado”, Yuliya acrescentou. “Sendo responsáveis ​​não apenas por suas próprias vidas, mas pelas vidas de seus filhos ainda não nascidos e então tendo que suportar ataques e alarmes constantes. É insuportável. Nós até ouvimos as explosões enquanto estamos nos abrigos.”

Crucial para muitas gestantes e recém-nascidos na região, o hospital sofreu um blecaute pela manhã, pois as explosões do último ataque aéreo causaram uma queda de energia.

Mais um dia, mais um ataque aéreo

“Hoje, sofremos outro ataque aéreo”, disse o Dr. Ogorodnyk Artem Oleksandrovych, chefe de obstetrícia.

“As explosões foram próximas, e perdemos energia em todo o hospital”, contou. “Estávamos operando com geradores, mas isso significa que certas instalações, como elevadores, estão fora de serviço. Priorizamos a energia de áreas críticas, como a unidade de terapia intensiva neonatal, salas de cirurgia e salas de parto.”

Apesar dessas dificuldades regulares, a equipe médica se adaptou à nova realidade. “Nos últimos anos de bombardeio constante, tivemos que nos tornar bastante engenhosos”, explicou o Dr. Ogorodnyk. “Tivemos que realizar um procedimento de emergência na escuridão total, contando com lanternas de nossos telefones até que os geradores entrassem em ação. Esses segundos parecem uma eternidade quando você está no meio de uma operação crítica.”

‘O parto não espera por condições seguras’

O Dr. Ogorodnyk admitiu que “trabalhar neste ambiente é desafiador, para dizer o mínimo”.

“Fazemos isso há três anos, desde que a guerra começou”, disse. “Nunca paramos de trabalhar. O parto não espera por condições seguras; estamos aqui 24 horas por dia, sete dias por semana, todos os dias do ano.”

Apesar da ameaça constante, o hospital teve que inovar. “Temos uma sala de parto no abrigo agora”, disse o Dr. Ogorodnyk. “Se pudermos adiar certos procedimentos, adiaremos. Mas, quando se trata de partos ou cirurgias que salvam vidas, temos as instalações para fazer isso no subsolo.”

‘A realidade é dura’

De fato, médicos em toda a Ucrânia continuam a fornecer cuidados e apoio àqueles que mais precisam, com uma perseverança tão vital quanto o tratamento médico que oferecem.

O UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas), que cuida da saúde sexual e reprodutiva, apoia uma ampla rede de instalações médicas e unidades móveis de saúde em toda a Ucrânia, garantindo a entrega de suprimentos essenciais para a saúde sexual e reprodutiva, além de produtos farmacêuticos, inclusive no Centro Perinatal Regional de Kiev.

O UNFPA fornece incubadoras, kits de dignidade e salas de cirurgia ginecológica sem barreiras. Esses serviços dão suporte ao sistema de saúde existente, já que os esforços do governo estão focados na guerra em andamento.

“A realidade é dura”, disse o Dr. Ogorodnyk. “Mas nos adaptamos. Não temos escolha a não ser continuar. As vidas dos nossos pacientes dependem disso, e não falharemos com eles, não importa as circunstâncias.”

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