Inexperiência das tropas russas ajuda a explicar o sucesso da ofensiva ucraniana em Kursk

Invasão pegou de surpresa os soldados pouco treinados que estavam estacionados na região de fronteira, longe da linha de frente

A escassez de soldados é um problema antigo das Forças Armadas da Rússia na guerra da Ucrânia. Kiev estabeleceu uma defesa eficiente contra os invasores desde os primeiros meses de combates, e Moscou perdeu homens em um ritmo superior a qualquer projeção. Recorreu, então, ao recrutamento de civis, e agora a inexperiência das tropas cobra seu preço. A presença de combatentes sem o devido preparo vem sendo crucial para o sucesso da ofensiva ucraniana na região russa de Kursk.

Nos últimos dias, o Telegram e outras mídias sociais disponíveis na Rússia têm sido inundados por mensagens de civis e analistas militares alertando para a falta de experiência dos militares que estavam posicionados na fronteira quando da invasão ucraniana, em 6 de agosto.

“Quando a fronteira foi atacada às 3 da manhã por tanques, havia apenas recrutas se defendendo”, disse uma mulher que alega ser mãe de um soldado de Kursk, com relato feito pela rede CNN. “Eles não viram um único soldado, nem um único soldado profissional. Eles não viram ninguém. Meu filho ligou mais tarde e disse: ‘Mãe, estamos em choque.”

Soldados das Forças Armadas da Rússia (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

Os recrutas passaram a ingressar nas Forças Armadas russas em grande quantidade a partir de setembro de 2022, quando o presidente Vladimir Putin ordenou uma mobilização parcial que, segundo ele, adicionou 300 mil novos soldados ao efetivo antes de ser interrompida.

Logo nas primeiras semanas de guerra o presidente prometeu que recrutas não seriam enviados ao campo de batalhas, com a missão de enfrentar o inimigo cabendo aos profissionais. “Enfatizo que soldados conscritos não estão participando de hostilidades”, disse Putin em mensagem televisionada em março de 2022, conforme relato da rede Al Jazeera. “Não haverá convocação adicional de reservistas.”

Após a mobilização, a promessa não foi cumprida à risca, com relatos de jovens forçados a se juntar ao exército e posteriormente mortos na linha de frente. Entretanto, civis que tiveram parentes, amigos ou conhecidos convocados relatam que é normal o envio deles a posições na retaguarda, onde o risco parecia reduzido.

Isso ajuda a explicar a presença de tantos combatentes inexperientes em Kursk, dentro do território russo, onde Moscou não acreditava que as tropas da Ucrânia colocariam os pés. A avó de um desses recrutas disse que o neto, agora desaparecido, havia sido destacado para atuar em uma vila a 500 metros da fronteira e sequer recebeu uma arma.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e seu comandante militar Oleksandr Syrskyi alegam que as tropas de Kiev já conquistaram mais de mil quilômetros quadrados de território, o que abrange quase uma centena de cidades e vilas russas.

Zelensky inclusive fez uma visita à região de fronteira na quinta-feira (22), de acordo com a agência Associated Press (AP), e afirmou que seus militares fizeram novos prisioneiros de guerra russos, formando assim um valioso “fundo de trocas” que futuramente permitirá a libertação de ucranianos detidos.

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