Kremlin tem pressa para realizar referendos sobre anexação de áreas ocupadas

Cidadãos de Donetsk e Luhansk votariam se são favoráveis ou contrários à integração das regiões ucranianas ao Estado russo

O governo da Rússia estaria acelerando o processo para a realização de um referendo popular que consultaria os cidadãos de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, sobre a anexação ao Estado russo das duas regiões parcialmente ocupadas. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

As autodenominadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, que integram a região de Donbass, foram oficialmente reconhecidas como independentes pelo presidente russo Vladimir Putin antes da invasão à Ucrânia, no dia 24 de fevereiro. Enquanto Luhansk é totalmente controlada pelos russos desde junho, partes de Donetsk ainda estão sob o poder de Kiev.

“Esses territórios são regiões russas”, disse Andrei Turchak, legislador russo e líder do partido governista Rússia Unida, que na quinta-feira (25) se dirigiu a outros parlamentares para comentar a situação das duas regiões.

Inicialmente, os referendos seriam realizados junto das eleições locais na Rússia, marcadas para o dia 11 de setembro. Essa hipótese, porém, foi descartada pelo Kremlin, de acordo com o jornal econômico russo Vedomosti. Em parte isso aconteceu porque as tropas russas não conseguiram assumir integralmente o controle de Donetsk.

A intenção de acelerar o processo de votação já havia sido alertada pelos EUA. “Como eles obviamente estão tendo problemas para obter ganhos geográficos dentro da Ucrânia, eles estão tentando obter isso por meios políticos falsos”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, na quarta (24). Segundo ele, Moscou teme que a população não participe do pleito.

Um processo semelhante está em andamento em outras áreas ocupadas, Kherson e Zaporizhzhya, onde a votação ocorreria posteriormente.

Moradores de Donetsk, no leste da Ucrânia, em 2018 (Foto: OSCE/Flickr)
Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Esses conflitos foram usados por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país. Segundo Putin, a invasão serviria para libertar os cidadãos de etnia russa que vivem na Ucrânia sob opressão de Kiev.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região. O sul ucraniano também entrou na mira, com diversas áreas agora ocupadas por Moscou.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar a Rússia de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

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