‘Lobo solitário’ atacou premiê eslovaco e citou a guerra da Ucrânia como um dos motivos

Robert Fico foi atingido por cinco tiros, sendo que quatro deles são motivo de preocupação para os médicos que o operaram

O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, está internado em estado grave desde quarta-feira (15), quando foi atacado por um indivíduo que o acertou com cinco tiros na cidade de Handlova, cerca de 140 quilômetros a nordeste da capital Brastislava.

Nesta quinta (16), o ministro do Interior, Matus Sutaj Estok, afirmou que o autor do crime, preso imediatamente pelas forças de segurança e acusado de tentativa de homicídio, agiu sozinho.

“Este é um lobo solitário que se radicalizou no último período após as eleições presidenciais (em abril)”, disse Estok, de acordo com a agência Reuters. A autoridade estatal explicou, ainda, que o atirador citou como motivações a posição de Fico quanto à guerra da Ucrânia, os planos de reforma da emissora estatal de rádio e televisão e o desmantelamento da Procuradoria Especial de Justiça.

Fico voltou ao cargo após as eleições parlamentares de outubro do ano passado, tendo atuado como premiê anteriormente até 2018. No pleito, o partido de centro-esquerda dele, Smer, superou a sigla liberal Eslováquia Progressista, que aparecia na frente nas pesquisas de boca de urna e tem Michal Simecka como líder.

Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia (Foto: WikiCommons)

Aliado de Vladimir Putin e conhecido por suas posições contrárias à Ucrânia na guerra, o premiê se opõe às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia e questiona o apoio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ao país invadido. Durante a campanha, pregou a suspensão do envio de armas e a atribuição de responsabilidade pela guerra também ao Ocidente e a Kiev, não somente a Moscou.

Fico é uma figura controversa também domesticamente, adotando políticas que combinam elementos de conservadorismo social, nacionalismo, retórica anti-LGBT e promessas de benefícios sociais generosos. Ele tem, porém, uma agenda antiliberal eficaz, principalmente em pequenas cidades e áreas rurais.

No início de maio, milhares de pessoas foram às ruas do país protestar contra a reforma dos serviços públicos de rádio e televisão do país liderada pelo primeiro-ministro. Paras os críticos do projeto, isso representaria a tomada de controle dos meios de comunicação pelo governo, conforme relato da agência Associated Press (AP).

Entre os principais críticos da medida, aprovada pela coligação política liderada pelo partido de Fico, estão a presidente Zuzana Caputova e o candidato derrotado no pleito de outubro. “A democracia eslovaca precisa de um RTVS forte e independente, e os seus funcionários precisam do seu apoio”, disse Simecka.

Eslováquia Unida

O atentado contra a vida do premiê, no entanto, conseguiu unir temporariamente rivais políticos. Caputova, que deixará o cargo em junho, e seu sucessor e opositor, Peter Pellegrini, surgiram lado a lado e convocaram a população a se unir, superando suas diferenças ideológicas em favor do país.

A presidente liberal, que também é rival de Fico, disse que os partidos se reuniram num esforço para acalmar o país. “Vamos sair do círculo vicioso de ódio e acusações mútuas”, disse Caputova em entrevista coletiva. “O que aconteceu ontem foi um ato individual. Mas a atmosfera tensa de ódio foi trabalho coletivo nosso.”

Condição “muito séria”

De acordo com a Reuters, Fico foi atingido por cinco tiros à queima-roupa, sendo que quatro deles são motivo de maior preocupação para os médicos que o operaram durante cinco horas. Ele está em condição “muito séria”, porém estável, e o vice-primeiro-ministro Robert Kalinak declarou que ainda é cedo para saber se conseguirá se recuperar.

“Infelizmente, ainda não posso dizer que estamos vencendo (a batalha para salvar Fico) ou que o prognóstico é positivo, porque a extensão das lesões causadas ​​por quatro ferimentos a bala é tão extensa que a resposta do corpo ainda será muito difícil”, disse Kalinak.

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