Museu de Arte de Kherson acusa a Rússia de saquear todo o acervo do local

Ucranianos classificam a ação como "saque" e dizem que o transporte foi feito sem o cuidado necessário para lidar com as obras

As forças de ocupação russas retiraram do Museu de Arte de Kherson todo o acervo do local. Em meio à evacuação de tropas da região, anunciada por Moscou na quarta-feira (9), as obras foram transferidas para a Crimeia, que desde 2014 está sob o controle do governo de Vladimir Putin. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Segundo post do próprio museu no Facebook, diversos ônibus e caminhões estiveram no local entre os dias 1º e 2 de novembro para levar as obras. “Museu de Arte de Kherson saqueado por ocupantes russos”, diz o texto. “Chamam de ‘evacuação’, mas na nossa língua é saquear sob o argumento de ‘preservar os valores culturais'”.

Ainda de acordo com o post, entre 30 e 40 pessoas foram encarregadas de esvaziar o museu. “Não houve uma atitude delicada em relação às raridades. As pinturas não foram embaladas de forma especial para o transporte, mas embrulhadas em algum trapo”.

Entre as obras estão algumas de artista renomados, como os russos Leonid Chichkan e Pyotr Sokolov e os ucranianos Mykhailo Andriienko-Nechytailo e Ivan Pokhitonov, este último natural da própria região de Kherson.

As obras foram transferidas para o Museu Central de Taurida, em Simferopol, que confirmou a informação. “Devido à introdução da lei marcial no território da região de Kherson, fui instruído a levar as exposições do Museu de Arte de Kherson para armazenamento temporário e garantir sua segurança até que sejam devolvidas ao seu legítimo proprietário”, disse o diretor Andrei Malgin.

Museu de arte de Kherson, na Ucrânia (Foto: WikiCommons)
Crime de guerra

Este não é o primeiro episódio do tipo registrado em meio à guerra. Em outubro, o ministro da Cultura da Ucrânia, Oleksandr Tkachenko, acusou a Rússia de saquear artefatos em pelo menos 40 museus do país. Os prejuízos à época foram calculados em centenas de milhões de euros, declarou o chefe da pasta.

“A atitude dos russos em relação à herança cultural ucraniana é um crime de guerra”, disse ele na ocasião.

Entre as peças levadas do país pelas tropas russas após a captura da cidade de Melitopol, em fevereiro, está uma tiara dourada de 1,5 mil anos. A peça, incrustada com pedras preciosas, foi um dos artefatos mais valiosos do planeta à época do sangrento governo de Átila, o Huno, um dos maiores conquistadores do mundo antigo, famoso por peitar o Império Romano.

De acordo com um funcionário do museu de Melitopol, também foram saqueadas outras 198 peças de ouro de 2,4 mil anos, datadas da era dos Citas, nômades que migraram da Ásia Central para o sul da Rússia e da Ucrânia e fundaram um império na Crimeia.

Já m Mariupol, umas das cidades mais arrasadas pelo conflito, o exército de Vladimir Putin é acusado de roubar mais de dois mil itens espalhados em museus da cidade. 

“São museus, prédios históricos, igrejas. Tudo que foi construído e criado por gerações de ucranianos”, afirmou em setembro a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska. “Esta é uma guerra contra a nossa identidade”.

A “operação militar especial”, como o Kremlin chama a guerra, também causou profundos danos físicos ao patrimônio cultural da Ucrânia. De acordo com levantamento da agência cultural da ONU (Organização das Nações Unidas), 199 espaços culturais em 12 regiões foram atingidos.

Eles incluem 84 igrejas e outros locais religiosos, 37 edifícios de importância histórica, 37 edifícios para atividades culturais, 18 monumentos, 13 museus e 10 bibliotecas, diz a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

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