Polícia russa detém jornalistas que protestavam por liberdade de imprensa

Manifestação ocorreu um dia após o Ministério da Justiça adicionar mais dois veículos de imprensa à lista de “agentes estrangeiros”

A polícia de Moscou deteve um grupo que jornalistas que realizavam um protesto em defesa da liberdade de imprensa no sábado (21). O incidente ocorreu na Praça Lubyanka, em frente ao prédio da FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês), segundo a agência Associated Press.

A manifestação dos jornalistas ocorreu um dia após o Ministério da Justiça do País adicionar o canal de TV Dozhd (Chuva, em tradução literal) e o canal investigativo online Vazhnye Istorii (Histórias Importantes, em tradução literal) à lista de “agentes estrangeiros”.

Os detidos terão que comparecer perante um juiz em data a ser determinada. Sob acusação de realizarem protesto sem autorização, eles podem ser multados em até US$ 270 (R$ 1,45 mil).

Agentes da polícia de Moscou interrompem protesto em dezembro de 2011 (Foto: CEA+/Flickr)

“Eu sou contra rotular o canal de TV Dozhd como um ‘agente estrangeiro’”, disse Farida Rustamova, uma jornalista da emissora. “Quero trabalhar e viver livremente na Rússia. Eu quero ter a oportunidade de ser uma jornalista livre. Não quero que meus colegas sejam presos, revistados e rotulados como ‘inimigos do povo’ ou ‘agentes’”.

Já Yulia Krasnikova, jornalista do Vazhnye Istorii, afirmou que a ação das autoridades ao reprimir o protesto é inconstitucional. “O fato de não querermos escrever histórias que outros meios de comunicação pró-governo fazem não significa que violamos algo e que somos ‘agentes estrangeiros’”, disse ela.

A punição ao Dozhd vem na esteira de uma série de matérias críticas a autoridades russas produzidas pela emissora, com foco sobretudo na forte repressão a protestos pacíficos e no envenenamento de Alexei Navalny, o principal opositor do presidente Valdimir Putin.

Agente estrangeiro

A designação “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior.

A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes e muitas vezes sufoca financeiramente os veículos, obrigados ainda a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.

Jornalistas independentes ou representantes de veículos de mídia que tenham se esquivado das exigências três vezes após terem o nome incluído na lista podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo.

Por que isso importa?

A repressão do governo Vladimir Putin a veículos de imprensa tem aumentado. Sites noticiosos, como Meduza e VTimes, também foram declarados “agentes estrangeiros”.

Em julho, a Justiça da Rússia proibiu a atuação do Proekt (Projeto, em tradução literal), em represália contra uma série de reportagens sobre erros ou ações questionáveis do presidente Vladimir Putin e de alguns de seus aliados.

Muitos jornalistas ligados ao oposicionista Alexei Navalny, atualmente preso em Moscou, tiveram suas casas invadidas pela polícia sob ordens de busca e apreensão. A RFE recebeu multas milionárias.

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