Rússia confirma morte de general que pode ter sido atingido por seus próprios soldados

Canais de Telegram ligados ao Exército dizem que Vladimir Zavadsky foi atacado por acidente porque dirigia um veículo ucraniano

A Rússia confirmou nesta segunda-feira (4) a morte do major-general Vladimir Zavadsky, que atuava como vice-comandante do 14º Corpo de Exército russo na guerra da Ucrânia. Trata-se de mais uma importante baixa entre os oficiais das Forças Armadas de Moscou, com um detalhe inusitado: algumas fontes militares russas dizem que ele foi morto pelos próprios comandados.

A morte foi anunciada por Alexander Gusev, governador da região russa de Voronezh, segundo o site Current Time. “Grande perda. Dor penetrante. Vice-comandante do 14º Corpo de Exército da Frota do Norte, major-general Vladimir Zavadsky, morreu em um posto de combate na zona de operações especiais. Desde muito jovem, Vladimir escolheu a vocação de defensor da pátria e foi fiel a isso até o fim.”

A fala do governador encerra a especulação em torno da morte, que vinha sendo noticiada por veículos russos e ucranianos, mas até então carecia de uma confirmação oficial. O anúncio russo, coisa rara, ainda exclui o nome de Zavadsky da lista de oficiais cujas mortes seguem sem uma confirmação, algo que se tornou corriqueiro na guerra da Ucrânia.

Oficiais russos em cerimônia para homenagear combatentes mortos (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

Um caso emblemático é o do almirante russo Viktor Sokolov, comandante da frota do Mar Negro, que teria morrido em um ataque ao quartel-general da esquadra na Crimeia em 25 de setembro deste ano. No dia seguinte, porém, vídeos exibidos pela TV estatal da Rússia e por canais de Telegram mostraram o que seria o oficial em uma reunião de líderes de defesa.

Até hoje, mais de dois meses depois, persiste a dúvida: foi a inteligência de Kiev que errou ou é Moscou que tenta esconder a perda? A incerteza, no entanto, deixou uma coisa clara: a desinformação e a propaganda têm sido usadas como armas no conflito, e identificar as mentiras dos dois lados é um desafio cada vez maior.

Não chega a ser novidade o ressurgimento de um oficial russo que havia sido dado como morto. Um episódio idêntico ao de Sokolov envolveu Anton Kuprin, capitão do cruzador Moskva, o orgulho da frota russa, que afundou em abril de 2022.

A própria perda do navio até hoje não foi esclarecida. Embora Moscou insista em dizer que foi destruído por um incêndio no depósito de munições, serviços de inteligência ocidentais alegam que mísseis de cruzeiro disparados pelas forças ucranianas foram responsáveis pelo afundamento da embarcação. Kiev alega que Kuprin morreu no ataque, junto de um número incerto de marinheiros. Após a morte, porém, Moscou divulgou o que seriam imagens dele em eventos governamentais.

Embora a morte de Zavadsky tenha sido confirmada, ao contrário do que ocorreu com Sokolov e Kuprin, as circunstâncias são misteriosas. Enquanto o governador de Voronezh disse que a morte ocorreu em um posto de combate, há quem afirme que ele foi morto na retaguarda, onde teoricamente o risco é reduzido. E os responsáveis teriam sido os próprios russos.

De acordo com a mídia ucraniana e com vários canais russos ligados às Forças Armadas da Rússia no Telegram, o major-general foi morto porque resolveu transitar por uma área ocupada por forças de Moscou usando um veículo apreendido do Exército da Ucrânia. Então, teria sido confundido com um invasor e atacado por seus próprios homens.

Um desses canais do Telegram, que alega ter fontes dentro das Forças Armadas, diz ainda que ao menos sete generais russos foram mortos desde o início da guerra. Tais números são compatíveis com os divulgados pelo site Mediazona em parceria com a rede BBC, segundo os quais sete generais morreram na guerra, além de 92 coronéis, 229 tenentes-coronéis e três capitães.

Tags: