O número elevado de baixas entre as tropas da Rússia na guerra da Ucrânia e a dificuldade de repor as perdas têm levado o governo a recrutar cada vez mais pessoas na casa dos 50 anos, às quais os demais soldados se referem como “avôs”. A situação não apenas envelhece as Forças Armadas, mas compromete o desempenho no campo de batalhas, segundo militares e parlamentares ouvidos pelo site independente Verstka.
Um parlamentar russo que faz visitas frequentes às áreas de combate disse que “a idade média” dos soldados “definitivamente aumentou” e que, devido à falta de experiência em combate, eles se tornam alvos mais fáceis para as forças da Ucrânia. “Eles estão sendo ceifados”, afirmou a fonte, que pediu anonimato.
Um oficial militar que atua na região de Donetsk confirmou a informação. “Desde o início do verão, nosso regimento perdeu 200 [mortos] e 300 [feridos]. Grosso modo, cerca de 500 pessoas”, disse ele. “O adicional ainda está sendo enviado para nós. Metade dos que vêm tem mais de 50 anos, talvez até mais. E nem todos assumem seus postos.”
Em Moscou, uma fonte do alto escalão do gabinete do prefeito confirmou que cerca de metade das pessoas recrutadas nos últimos meses tem mais de 45 anos. Entre as fontes militares ouvidas, as desvantagens apontadas em um soldado na casa dos 50 anos passam pela dificuldade em realizar trabalhos físicos, como cavar trincheiras ou carregar equipamento pesado, até a lentidão e a maior propensão a doenças.
O envelhecimento das tropas é confirmado pelo levantamento de combatentes mortos feito em parceria pela rede BBC e o site Mediazona. Os investigadores levam em conta somente militares que foram identificados pelo nome e cujas mortes foram confirmadas oficialmente. Para tanto, usam informações publicamente disponíveis, como documentos oficiais, manifestações de familiares em redes sociais e publicações da imprensa regional.
Na atualização mais recente, o balanço aponta 71.057 soldados russos mortos na guerra até agora. Somente neste ano, 2.475 mortes confirmadas pelos investigadores são de soldados acima dos 45 anos, o que corresponde a metade de todos os casos registrados no período. Também representa um aumento de 18% em relação aos casos semelhantes de todo o ano passado. Já os soldados com mais de 55 mortos neste ano somam 597, uma vez e meia mais que em 2023 e quatro vezes mais que em 2022.