Rússia promete resposta militar à Finlândia, que vê ‘situação cada vez mais sombria’

Governo russo disse que adotará medidas 'de natureza técnico-militar' após Helsinque ceder bases a tropas dos EUA

A Rússia reagiu com irritação, na quarta-feira (3), à notícia de que a Finlândia concedeu a tropas dos EUA acesso a 15 bases militares dentro do país escandinavo. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo disse que serão adotadas medidas retaliatórias, inclusive no âmbito militar, e Helsinque admitiu que é preciso levar a sério as ameaças.

“Só posso confirmar que a Rússia não deixará sem resposta a presença militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em nossa fronteira, o que ameaça a segurança da Federação Russa”, disse o porta-voz adjunto Andrei Nastasin, de acordo com a agência Reuters.

Ainda de acordo com o porta-voz, serão adotadas “as medidas necessárias, inclusive de natureza técnico-militar, para combater decisões agressivas da Finlândia, bem como de seus aliados da Otan.”

A manifestação surgiu em reação à decisão do parlamento finlandês, na segunda-feira (2), de aprovar um acordo de cooperação com os EUA assinado em dezembro de 2023. O pacto concede às Forças Armadas norte-americanas acesso a 15 bases militares do país escandinavo, que se juntou à Otan no ano passado.

Militar exibe em seu uniforme a bandeira da Finlândia (Foto: Santeri Viinamäki/WikiCommons)

Porém, uma eventual resposta militar voltada à fronteira entre Rússia e Finlândia, que se estende por cerca de 1,3 mil quilômetros, exigirá de Moscou uma complicada logística. Isso porque quase todas as tropas antes estacionadas ali tiveram que ser retiradas e enviadas para a guerra da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022 e sem um final à vista.

“Em média, 80% do equipamento e dos soldados foram transferidos para a guerra na Ucrânia”, disse em maio uma fonte de alto escalão da inteligência militar finlandesa à rede local Yle.

A avaliação de inteligência, baseada em informações coletadas por operadores e em imagens de satélite, é de que outras bases dentro da Rússia foram afetadas da mesma maneira, com perdas de pessoal e de equipamento para compensar as baixas no campo de batalhas ucraniano.

Apesar do enfraquecimento militar na fronteira, o ministro da defesa da Finlândia, Antti Häkkänen, disse em entrevista ao Yle, publicada na quarta, que o país precisa se precaver: “A Rússia é muito imprevisível, e a situação, infelizmente, está cada vez mais sombria.”

Ainda assim, ele aprovou o acordo com Washington e disse que ele trará enorme benefício ao país. “O contrato é pesado. Vincula muito profundamente a cooperação em segurança entre os Estados Unidos e a Finlândia, até medidas de defesa concretas, caso em que os Estados Unidos têm a capacidade de defender toda a Finlândia”, afirmou.

Otan fortalecida

A adesão da Finlândia à Otan incomoda bastante a Rússia, que praticamente viu dobrar o tamanho de sua fronteira com a aliança militar transatlântica. De acordo com o think tank Wilson Center, também incomoda o reforço militar fornecido pelas Forças Armadas finlandesas, que têm cerca de 280 mil soldados em tempos de guerra, bem como 900 mil cidadãos com algum tipo de treinamento militar.

“Em termos históricos, a Finlândia tem uma proporção de combatentes per capita equivalente à da antiga Esparta”, afirmou Jason C. Moyer, analista do Wilson Center, em um artigo tratando do tema publicado em abril, para lembrar a marca de um ano desde a adesão finlandesa à Otan.

Ainda de acordo com Moyer, a “decisão histórica de aderir à aliança reflete uma profunda preocupação com as ações agressivas da Rússia contra os seus vizinhos”. Ele, então, concluiu: “A Finlândia, juntamente com a Suécia, tem Forças Armadas extremamente capazes que resultam numa aliança mais segura e protegida.”

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