Na visão de Moscou, a soberania das nações bálticas, que faziam parte da hoje extinta União Soviética, é no mínio contestável, e esses países devem se submeter à legislação russa. Essa é a avaliação do think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), que se baseou em ações recentes do Kremlin contra Lituânia, Letônia e Estônia.
Em fevereiro deste ano, a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, e outras autoridades do país, bem como da Letônia e da Lituânia, tiveram seus nomes inseridos na lista de criminosos procurados por Moscou, embora não tenham em nenhum momento cometido algum crime dentro do território russo.
A acusação contra Kallas, a figura mais importante da relação, é a de que ela aprovou a retirada de monumentos da Segunda Guerra Mundial no território estoniano. Para a chefe de Estado, tais obras eram vistas em seu país como uma memória indesejada do período de ocupação soviética.
“O Kremlin continua os esforços para fazer cumprir as leis federais russas nos países pós-soviéticos onde a Rússia não tem jurisdição legal”, disse o ISW em sua análise do caso, destacando que os três países citados são membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Quando foi anunciado que seu nome constava na lista do Ministério das Relações Exteriores russo, Kallas disse que esta é uma “tática familiar de intimidação” da Rússia, disposta a silenciá-la pelo apoio vocal e prático que tem oferecido à Ucrânia na guerra contra Moscou. E prometeu que não mudará em nada seu posicionamento devido à pressão política.
A primeira-ministra ainda lembrou que no passado a família dela já foi vítima direta de ordens judiciais falsas do Estado russo. “Isso me atinge perto de casa: minha avó e minha mãe já foram deportadas para a Sibéria, e foi a KGB quem emitiu os mandados de prisão fabricados.”
De acordo com o think tank, a “tentativa do Kremlin de fazer cumprir suas leis federais por funcionários da Otan em ações nos seus próprios países nega efetivamente a soberania desses Estados.” E tal gesto serviria, também, para eventualmente justificar uma futura escalada militar contra a aliança militar transatlântica, que atualmente trava uma verdadeira guerra fria contra Moscou.
Além de Kallas, a lista de procurados conta com outros nomes importantes, entre eles o secretário de Estado da Estônia, Taimar Peterkop, o ministro da Cultura da Lituânia, Simonas Kairys, e cerca de 60 parlamentares letões cujos mandatos foram encerrados em novembro de 2022. A Polônia, mais uma país que tem retirado monumentos russos de suas ruas, igualmente tem representantes entre os procurados.
Moscou alegou, quando da emissão dos mandados, que a retirada dos monumentos é uma profanação da memória dos militares soviéticos da Segunda Guerra. Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, citou Kallas em particular, dizendo que ela “realizou atos hostis contra o nosso país e a memória histórica.” De acordo com o ISW, o procurador-geral russo, Igor Krasnov, disse que o país não recuará