Zelensky usa invasão em Kursk para pressionar aliados e aumentar o poder de fogo da Ucrânia

'Se nossos parceiros suspendessem as restrições atuais ao uso de armas em território russo, não precisaríamos entrar fisicamente na região', disse o presidente

A invasão ucraniana em Kursk, região na porção oeste da Rússia, foi mantida em segredo até momentos antes de acontecer. As tropas de Kiev foram mobilizadas de surpresa, e os aliados ocidentais do país, que fornecem o poder de fogo necessário para conter a agressão russa, não sabiam de nada. De acordo com o presidente Volodymyr Zelensky, a operação secreta está atrelada à hesitação das nações ocidentais em autorizar ataques ao território russo.

“Se nossos parceiros suspendessem as restrições atuais ao uso de armas em território russo, não precisaríamos entrar fisicamente na região de Kursk”, disse Zelensky, de acordo com a agência Reuters. Ele ainda chamou de “ingênuo e ilusório” o veto ocidental e disse que os ataques dentro da Rússia se fazem necessários para proteger a população da Ucrânia que vive nas áreas de fronteira.

No mesmo pronunciamento, o presidente ucraniano declarou que a operação dentro da Rússia é “defensiva” e bem-sucedida, com suas tropas tendo conquistado uma área de 1,25 mil quilômetros quadrados. Ainda segundo ele, 92 assentamentos russos estão agora sob controle da Ucrânia.

O líder ucraniano, Volodymyr Zelensky (Foto: Governo da Ucrânia/Divulgação)

Além da operação terrestre, as forças de Kiev seguem com ataques aéreos ao território russo. Nesta terça, o governo do país anunciou que seus mísseis atingiram a infraestrutura de energia da Rússia na região de Sumy (do lado russo), que também faz fronteira com a Ucrânia. De acordo com a Reuters, o bombardeio deixou mais de 18,5 mil pessoas sem energia.

Apesar do avanço constante e da vasta área conquistada, Kiev alega que a operação não tem como objetivo ocupar permanentemente os territórios russos. A ideia é, na verdade, criar uma zona-tampão que facilite a operação defensiva ucraniana, conforme relatou a rede Radio Free Europe (RFE).

“A Ucrânia não pretende tomar áreas povoadas ou ocupar este território”, declarou o conselheiro presidencial Mykhaylo Podolyak na segunda-feira (19). “Este é um tipo diferente de guerra, uma guerra que está claramente definida no direito internacional e nas convenções que regulam o comportamento em relação aos combatentes e especialmente em relação aos não combatentes, em relação à população civil neste território.”

A autoridade explicou que a área conquistada por suas tropas vem sendo usada por Moscou para implantar artilharia e realizar ataques à infraestrutura civil da Ucrânia. Os bombardeios atingem até instalações localizadas até 80 quilômetros dentro do território ucraniano.

“Pegue a região de Sumy [da Ucrânia], localizada bem em frente à região de Kursk. Cerca de 500 a 600 bombardeios eram realizados diariamente visando o território da região de Sumy. Espremer armas russas a uma profundidade de cem quilômetros já tornará possível proteger a população civil na área da fronteira ucraniana, por exemplo nas regiões de Chernihiv, Sumy e Kharkiv.”

Daí o argumento de Zelensky de que a invasão não seria necessária se o país pudesse usar armas de longo alcance para neutralizar a artilharia russa. “A Ucrânia está separada de deter o avanço do exército russo na frente por apenas uma decisão que aguardamos de nossos parceiros: a decisão sobre capacidades de longo alcance”, disse o presidente, citado pela RFE.

Podolyak reforçou a solicitação ao afirmar que Kiev não planeja, com os mísseis de longo alcance, atacar a população civil russa. “Definitivamente não há sentido em atacar grandes cidades ou áreas populosas como tal. Isso não resolveria nenhum problema e igualaria Ucrânia e Rússia no tipo de guerra, o que é absolutamente inútil”, afirmou.

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