No ano passado, 33.846 civis foram atingidos por explosões causadas por armas em todo o mundo, sendo que 15.305 dessas vítimas morreram. Os números constam de um relatório do grupo de monitoramento britânico Ação Contra a Violência Armada (AOAV, na sigla em inglês) e colocam 2023 como o ano mais violento para civis vítimas de conflitos desde que o balanço passou a ser feito, em 2010.
Segundo a AOAV, as mortes de civis causadas por explosões aumentaram 122% em 2023 na comparação com o ano anterior. Um crescimento relevante sobretudo se considerarmos que a guerra da Ucrânia teve início em 24 de fevereiro de 2022, ou seja, já estava em curso no período anterior.
O que ajuda a explicar a alta de 2023 é a guerra agora em curso no Oriente Médio, iniciada pela agressão de 7 de outubro do Hamas contra Israel, que gerou uma resposta dura do Estado Judeu sobretudo contra a Faixa de Gaza, atingindo ainda a Cisjordânia e até o Líbano.
“A operação militar de Israel em Gaza é uma das principais causas deste aumento drástico”, afirma o relatório. “Até 31 de dezembro, a AOAV registou 873 incidentes de utilização de armas explosivas perpetradas pelo Estado e 12.551 vítimas civis (9.034 mortos) como resultado da Operação Espadas de Ferro – cerca de 37% de todas as vítimas civis registadas globalmente em 2023.”
Os outros conflitos que mais contribuíram para as estatísticas estarrecedoras são a guerra entre Ucrânia e Rússia, que entra em 2024 sem perspectiva de ser encerrada, e os conflitos civis na Síria, no Sudão e em Mianmar.
Estados que mais matam
Os ataques aéreos foram os que mais contribuíram para aumentar os números, tendo um crescimento de 226% no ano passado. No total, 10.214 pessoas morreram dessa forma em 2023. Ataques lançados do solo aumentaram 56% e causaram 3.043 mortes, enquanto o uso de dispositivos explosivos improvisados (IEDs, na sigla em inglês) teve um drástica redução, atingindo o menor número desde 2010.
“Os aumentos significativos na frequência destes incidentes e nas vítimas civis resultantes destacam uma tendência preocupante na guerra moderna”, diz a AOAV, que insta governos e entidades internacionais a adotarem medidas de combate aos ataques aéreos que indiscriminadamente atingem civis.
Quanto aos responsáveis pelos ataques, atores estatais representam 77% dos casos com vítimas, sendo os mais violentos Israel e Rússia.
“Não podemos permanecer observadores passivos”, declarou Iain Overton, diretor executivo do grupo de monitoramento. “Devemos trabalhar ativamente para um futuro onde o uso de armas explosivas em áreas povoadas não seja a norma, mas uma aberração inaceitável.”