Mundo vive uma crise prisional ‘silenciosa, mas crescente’, segundo as Nações Unidas

Levantamento aponta 11,5 milhões de pessoas presas em todo o mundo; número de mulheres aumentou 57% em 20 anos

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

As prisões se tornaram um elo frágil em muitos sistemas de justiça criminal, enfraquecidas pelo encarceramento excessivo, superlotação, condições precárias e negligência crônica, alimentando apelos por reformas urgentes. 

Uma década atrás, a Assembleia Geral da ONU adotou as Regras de Nelson Mandela — um conjunto de 122 diretrizes que estabelecem padrões mínimos para o tratamento de prisioneiros, inspirado por um dos ex-prisioneiros políticos mais influentes do mundo: o ícone dos direitos civis sul-africano, Nelson Mandela.

Essas regras visam garantir a segurança e o respeito à dignidade humana, oferecendo parâmetros claros para os funcionários da prisão.

Apesar disso, os sistemas prisionais em todo o mundo continuam a enfrentar desafios profundos. A Assembleia Geral se reuniu na semana passada para discutir como proteger melhor as sociedades contra o crime, concentrando-se na reabilitação e na preparação dos presos para a vida após a prisão.

Celas superlotadas

“As celas das prisões estão lotadas”, disse Ghada Waly, diretora executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), observando que 11,5 milhões de pessoas estão atualmente presas em todo o mundo.

Imagem meramente ilustrativa mostra prisão Statsi, em Berlim, notória por casos de tortura física e psicológica (Foto: Matthew Ansley/Unsplash)

“A superlotação priva as pessoas de seus direitos mais básicos, incluindo acesso a cuidados de saúde, água limpa e saneamento ”, alertou. No entanto, os serviços prisionais continuam subfinanciados, subpriorizados e subvalorizados.

Essas falhas sistêmicas não apenas colocam em risco os presos e a equipe, mas também enfraquecem os esforços para reintegrar ex-prisioneiros, o que representa riscos para a comunidade em geral, acrescentou o presidente da Assembleia Geral, Philémon Yang.

Mulheres atrás das grades

O número de mulheres na prisão aumentou 57% nos últimos 20 anos — quase o triplo da taxa de homens.

A maioria dos sistemas não está equipada para atender às suas necessidades específicas. “Isso não é seguro. E isso não é humano”, disse Waly.

Mulheres detidas são especialmente vulneráveis, enfrentando maiores riscos de violência sexual, acesso limitado a cuidados de saúde reprodutiva e separação de seus filhos.

Hora de uma reforma ousada

“Precisamos de uma visão ousada — uma que vá além de tijolos e grades para se concentrar nas pessoas e em seu potencial”, disse Waly, instando os governos a reimaginarem como as prisões são administradas.

Administradas de forma responsável, as prisões podem contribuir para a segurança pública, a justiça e o Estado de Direito. Mas os ambientes prisionais atuais muitas vezes permanecem perigosos e contraproducentes.

Autoridades da ONU enfatizaram que a reabilitação deve estar no centro das reformas, incluindo sistemas de apoio que reduzam a probabilidade de reincidência e ajudem ex-prisioneiros a se reintegrarem à sociedade.

“A verdadeira medida da justiça não é como punimos”, concluiu Yang, “mas como protegemos, reabilitamos e construímos um futuro melhor para todos, em todos os lugares”. 

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