O ano de 2024 tornou-se oficialmente o mais letal para trabalhadores humanitários em toda a história, de acordo com dados divulgados pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha). Até agora, 281 profissionais foram mortos enquanto desempenhavam seu trabalho em zonas de conflito ao redor do mundo, superando o recorde de 280 mortes registrado no ano passado.
A escalada da violência é impulsionada, em grande parte, pela guerra em Gaza, onde desde outubro de 2023 mais de 320 trabalhadores humanitários perderam a vida. Muitos eram da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e morreram ao tentar fornecer ajuda essencial a populações vulneráveis.
“Estamos enfrentando uma taxa de mortalidade sem precedentes. A coragem e o compromisso dos trabalhadores humanitários estão sendo confrontados por um cenário de violência inimaginável”, declarou Tom Fletcher, subsecretário-geral de Assuntos Humanitários. Ele fez um apelo veemente para que as partes envolvidas nos conflitos respeitem as leis internacionais, garantam a segurança desses profissionais e responsabilizem os autores de ataques.
Violência vai além de Gaza
Embora o conflito em Gaza seja o mais notório, outras regiões também registraram níveis alarmantes de violência contra trabalhadores humanitários. Países como Afeganistão, Sudão do Sul, Ucrânia e Iêmen relatam sequestros, ferimentos graves, detenções arbitrárias e assassinatos de profissionais locais e internacionais.
De acordo com o Ocha, a maioria das vítimas são trabalhadores locais que atuam em ONGs, agências da ONU ou no Movimento da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho. Essa realidade reflete uma tendência mais ampla de aumento da violência contra civis em zonas de conflito, com mais de 33 mil mortes de civis registradas em 2023 – um aumento de 72% em relação ao ano anterior.
Mesmo diante de perigos extremos, as organizações humanitárias continuam suas operações, fornecendo assistência vital para milhões de pessoas ao redor do mundo. Em 2024, até novembro, mais de 116 milhões de indivíduos em situações de crise receberam apoio humanitário.
“O compromisso de continuar salvando vidas, mesmo em face de tamanha violência, é uma prova da resiliência dos trabalhadores humanitários. Eles precisam ser protegidos”, disse Fletcher.
Medidas de proteção em debate
Em resposta a esse cenário, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 2730, em maio deste ano, que exige novas medidas para prevenir ataques e aumentar a responsabilização por incidentes contra humanitários. O secretário-geral da ONU deverá apresentar recomendações concretas em uma reunião marcada para 26 de novembro.
Enquanto isso, a comunidade internacional enfrenta o desafio de equilibrar a resposta imediata às crises com a proteção daqueles que arriscam suas vidas para salvar outras. O crescente número de mortes sublinha a urgência de medidas efetivas para pôr fim a essa “era de impunidade”, como descreveu Fletcher.