Sem financiamento urgente, os focos de fome no mundo vão aumentar, alerta a ONU

Relatório destaca crise no Sudão como maior dos problemas, mas diz que a Palestina, Mali e Haiti também exigem atenção urgente

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Desde que o conflito eclodiu no Sudão, mais de um milhão de pessoas fugiram para o vizinho Sudão do Sul, buscando refúgio da violência crescente que deslocou 12,4 milhões de pessoas e mergulhou mais da metade da população sudanesa na insegurança alimentar. 

Mas a fome os perseguiu. Mais de 57% da população do país mais jovem do mundo, o Sudão do Sul, já enfrenta altos níveis de insegurança alimentar aguda.

O Sudão e o Sudão do Sul estão entre os cinco focos globais de fome de “maior preocupação”, presos em um ciclo cada vez pior de conflitos, choques climáticos e declínio econômico.

Os combates contínuos no Sudão, as inundações previstas para atingir seu vizinho do sul e a deterioração das condições econômicas em ambos os países devem intensificar a fome nos próximos meses.

Um novo relatório divulgado na segunda-feira (16) pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) também identificou a Palestina, o Mali e o Haiti como outros focos prioritários de fome, com mais sete países provavelmente enfrentando uma piora na segurança alimentar nos próximos cinco meses.

Famílias com crianças que fugiram do conflito no Sudão rumo ao Egito (Foto: Radwan Aboulmad/Unicef)

O relatório, que analisa dados existentes para projetar a natureza da insegurança alimentar, enfatizou que, sem assistência humanitária imediata, as pessoas que vivem nesses pontos críticos enfrentarão condições alimentares severas e altos riscos de fome e morte.  

“Este relatório deixa bem claro: a fome hoje não é uma ameaça distante – é uma emergência diária para milhões de pessoas. Devemos agir agora e em conjunto para salvar vidas e salvaguardar os meios de subsistência”, disse o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu.  

Fome motivada por conflitos

O relatório identificou que o principal fator causador da fome é o conflito, que muitas vezes é agravado por choques climáticos e econômicos.  

“Há uma fome constante no Sudão e também um risco de fome no caso de Gaza. E tudo isso é motivado pelo conflito e pela falta de acesso de ajuda humanitária”, disse Jean-Martin Baucer, diretor de análise de segurança alimentar da FAO.

Em Gaza, prevê-se que toda a população de 2,1 milhões de pessoas enfrentará níveis críticos de insegurança alimentar nos próximos meses, como resultado de operações militares prolongadas, com quase 500 mil pessoas previstas para enfrentar níveis catastróficos de insegurança alimentar.  

Sawsan era artista em Gaza antes do início do conflito. Desde então, ela e seus quatro filhos foram deslocados, perdendo tudo o que possuíam. Eles não têm o suficiente para comer: Sawsan descreveu ao PMA que agora se limita a amassar macarrão para fazer pão para os filhos.

O relatório também observou que choques climáticos e conflitos frequentemente causam declínios econômicos prolongados, diminuindo o poder de compra e a capacidade de autossustentação de famílias e comunidades.

Fechamento rápido da janela 

Nos últimos meses, as operações humanitárias de alimentos enfrentaram escassez significativa de alimentos e foram impedidas geograficamente por crises de segurança, o que torna a entrega de ajuda simplesmente perigosa.  

O PMA e a FAO estão pedindo à comunidade internacional que aumente drasticamente o financiamento para ajuda humanitária relacionada à alimentação e nutrição nos próximos meses e defenda o fim dos conflitos.  

“Investimentos urgentes e sustentados em assistência alimentar e apoio à recuperação são cruciais, pois a janela para evitar uma fome ainda mais devastadora está se fechando rapidamente”, disse a diretora executiva do PMA, Cindy McCain.

‘Alerta vermelho’

Em maio, o setor de ajuda alimentar estimou que precisaria de US$ 12,2 bilhões, mas apenas 9% desse valor foi financiado.  

O relatório também destacou a importância de avançar para estratégias humanitárias de longo prazo que equipem as comunidades com capacidades autossustentáveis ​​e sejam menos dispendiosas.

“Este relatório é um alerta vermelho. Sabemos onde a fome está aumentando e sabemos quem está em risco. Temos as ferramentas e a experiência para responder, mas sem financiamento e acesso, não podemos salvar vidas”, disse McCain.

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