‘A vida parou’: segunda maior cidade do Afeganistão sofre com o avanço talibã

Em um cenário de execução de civis no conflito entre forças nacionais e extremistas, fugir é a única saída para muitas famílias

O medo faz parte da rotina dos moradores de Kandahar, no sul do Afeganistão. Com 650 mil habitantes, a segunda maior cidade do país está cada dia mais perigosa, à medida que o Taleban avança e se infiltra na região. É o que detalhou reportagem da agência qatari Al Jazeera.

“É muito arriscado para as pessoas mandarem seus filhos à escola. Você só sai de casa para ir ao mercado se for absolutamente necessário. E, mesmo assim, muitas das lojas estão fechadas. A vida parou”, diz Kawsar Sama, de 21 anos, que decidiu se mudar para a capital Cabul com a família.

Com 650 mil habitantes e milhares de afegãos deslocados e forçados a fugir para lugares mais seguros, Kandahar está mergulhada no caos (Foto: Wikimedia Commons)

Para o grupo jihadista, em crescente ofensiva desde maio, assumir o controle total de uma cidade com centenas de milhares de habitantes seria uma grande vitória. Mas, para o povo de Kandahar, a sensação é a de viver um pesadelo.

Navid Amini, 23 anos, vive em Kandahar desde que nasceu, mas diz nunca ter visto nada parecido com o que tem acontecido na província nas últimas semanas: “Há guerra por toda a cidade”.

Execuções sumárias

Na semana passada, a ONG Human Rights Watch (HRW) divulgou um relatório acusando o Taleban de reunir e executar sumariamente pessoas que diz terem trabalhado para o governo e as forças de segurança afegãs.

O relatório da HRW veio logo depois de a ONU (Organização das Nações Unidas) emitir um aviso a todas as partes do conflito de que está “rastreando as muitas alegações de danos a civis” na província.

O Taleban diz que “rejeita categoricamente” as acusações, o que chamou de “propaganda”. O grupo ainda emitiu nota dizendo que desafia organizações humanitárias, internacionais e imprensa a visitarem o distrito de Spin Boldak e provar onde e quando alguém foi morto.

No entanto, há relatos de desaparecimentos de civis. O repórter fotográfico indiano Danish Siddiqui foi morto no último dia 16 em fogo cruzado enquanto registava confronto entre forças de segurança do Afeganistão e o Taleban em Spin Boldak. O governo culpou o Taleban.

Vítimas triplicaram

Nas últimas semanas, o fogo cruzado tornou-se uma das principais causas de mortes na província.

“Tanto o Taleban quanto o governo matam pessoas. Seja por engano ou de propósito, eles mataram pessoas”, disse Amini, contextualizando os motivos de fuga de milhares de pessoas de suas casas. Segundo matéria da agência AFP, combatentes passam a viver em residências abandonadas.

Um relatório recente da ONU triplicou o número de vítimas civis em decorrência do uso de artefatos explosivos improvisados. De acordo com as Nações Unidas, no primeiro semestre de 2021 foram 501 civis mortos dessa forma, com mais 1.457 feridos.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.


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