Ativistas iranianos criticam ONU por homenagem a presidente morto

O anúncio causou indignação entre os militantes de direitos humanos, que condenaram veementemente a iniciativa de homenagear o líder conhecido como o "Carniceiro de Teerã"

A ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou planos para uma cerimônia em memória do presidente iraniano, Ebrahim Raisi, nesta semana. O anúncio gerou reação negativa de ativistas de direitos humanos, que criticaram a iniciativa de homenagear o líder conhecido como o “Carniceiro de Teerã”, que morreu junto do Ministro das Relações Exteriores e outras autoridades estatais após o helicóptero que o transportava cair em uma área montanhosa no noroeste do país no último dia 19. As informações são da rede Radio Free Europe.

O presidente da Assembleia Geral da ONU, Dennis Francis, informou que o ato será realizado na sexta-feira (30), com os Estados-Membros incentivados a prestar homenagens durante a reunião.

Ativistas iranianos não receberam bem a notícia, apontando o alegado envolvimento de Raisi na execução em massa de presos políticos em 1988, quando ocupava o cargo de procurador-adjunto em Teerã.

Ebrahim Raisi, presidente do Irã (Foto: Meghdad Madadi/WikiCommons)

Além disso, destacaram que, durante seu mandato, Raisi supervisionou uma repressão brutal, por vezes mortal, contra a dissidência durante os protestos no Irã após a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, que visitava a capital do país quando foi abordada pela polícia da moralidade por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois, em 16 de setembro de 2022.

Narges Mohammadi, laureada com o Prêmio Nobel da Paz, foi uma das que mostrou indignação com a homenagem, chamando o evento de “uma comemoração das execuções e assassinatos em massa”. Presa, ela escreveu de sua cela em Teerã: “Quando os governos do mundo homenageiam um flagrante violador dos direitos humanos e um carniceiro da história do Irã como se estivessem lamentando uma figura democrática e amante da paz, estabelecem um precedente perigoso”.

Outra iraniana, Shirin Ebadi, também ganhadora do Nobel da Paz, igualmente manifestou sua desaprovação em uma postagem no Instagram. “A situação na República Islâmica é muito mais sombria e vergonhosa do que mereceria qualquer comemoração ou homenagem aos seus funcionários, especialmente em um local onde a justiça, imparcialidade e consciência são ausentes”.

A ONU já havia enfrentado críticas de grupos de direitos humanos por observar um momento de silêncio para Raisi em 22 de maio e por hastear sua bandeira a meio mastro em homenagem ao presidente iraniano. A brasileira Monica Grayley, porta-voz do presidente da Assembleia da ONU, afirmou que prestar homenagem à memória de um chefe de Estado falecido é “uma prática diplomática”.

A origem do apelido

Ebrahim Raisi ganhou o apelido de “Carniceiro de Teerã” devido ao seu envolvimento em diversas violações dos direitos humanos no país. Abaixo estão alguns dos motivos principais:

Tribunais da morte: Raisi era um fervoroso defensor da Revolução Iraniana e ficou conhecido como “Carniceiro de Teerã” por seu papel em tribunais que sentenciaram pessoas à morte por fuzilamento. Ele assumiu como vice-procurador-geral da capital aos 25 anos, participando de tribunais secretos estabelecidos em 1988, conhecidos como o “Comitê da Morte”.

Execuções em massa: enquanto atuava como procurador-adjunto do Tribunal Revolucionário de Teerã em 1988, Raisi desempenhou um papel crucial nas execuções em massa de prisioneiros políticos, a maioria dos quais eram filiados ao Mujahedin do Povo (MEK), mas também incluindo membros de outros grupos de esquerda.

Repressão aos protestos: sob seu governo, a repressão aos protestos resultou em mais de 500 mortes, principalmente durante as manifestações após a morte da jovem Mahsa Amini, em setembro de 2022.

Perseguição religiosa: Raisi ganhou reputação por perseguir cristãos e judeus.

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