Fome, doenças e desespero: por que a ajuda humanitária ainda não chega ao norte de Gaza

Uma semana após o cessar-fogo em Gaza, o norte do enclave ainda sofre com fome extrema, doenças infecciosas e falta de medicamentos, segundo agências humanitárias. A ONU (Organização das Nações Unidas) e organizações como a Oxfam e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) afirmam que, embora o acordo tenha permitido o envio de mais suprimentos, a ajuda continua chegando em ritmo insuficiente. As informações são do The Independent.

Desde o início do cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, cerca de 560 toneladas de alimentos entram em Gaza diariamente. No entanto, o chefe de assuntos humanitários da ONU, Tom Fletcher, descreve o fluxo como “um gotejamento, não a inundação necessária”.

Segundo ele, milhares de caminhões deveriam entrar por semana para enfrentar a fome, o colapso da infraestrutura e o deslocamento em massa da população.

Família desassistida em Gaza (Foto: WikiCommons)
Ajuda bloqueada e burocracia crescente

Organizações relatam filas de caminhões parados na fronteira sul devido a entraves administrativos e ao fechamento de pontos estratégicos. A passagem de Rafah, principal via de entrada de ajuda pelo Egito, permanece quase totalmente fechada desde 2023.

Israel ameaça manter o bloqueio e reduziu pela metade o número de caminhões autorizados, de 600 para 300 por dia, após acusar o Hamas de atrasar a devolução dos corpos de reféns.

“Neste momento, uma pequena fração da ajuda está chegando, quando o que é necessário é uma enxurrada”, disse Bushra Khalidi, líder de políticas da Oxfam. “O cessar-fogo prometia acesso humanitário, mas muitas ONGs continuam impedidas de atuar”.

A burocracia imposta por Israel é outro obstáculo. Desde março, o país exige que todas as ONGs se registrem e pode negar autorização a grupos considerados “deslegitimadores” ou que tenham apoiado boicotes a Israel.

A Mercy Corps relatou ao The Independent que o novo processo “ainda não foi implementado conforme o previsto”, o que atrasa a entrada de suprimentos e equipes médicas.

Crise humanitária e risco de colapso

Com a maioria dos hospitais destruídos ou inoperantes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que as doenças infecciosas estão “fora de controle”, incluindo surtos de meningite e doenças respiratórias.

A diretora regional da OMS, Hanan Balkhy, afirmou que apenas 13 dos 36 hospitais de Gaza funcionam parcialmente, mesmo após o cessar-fogo.

A ONU estima que 190 mil toneladas de ajuda estão prontas para envio, mas o acesso ao norte de Gaza, incluindo a Cidade de Gaza, continua “extremamente desafiador”. Estradas bloqueadas e bombardeadas dificultam a chegada de comboios.

Enquanto isso, os preços dos alimentos disparam e cresce o temor de que o cessar-fogo não se sustente. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou que Israel “não fará concessões” e exigiu que o Hamas cumpra integralmente o acordo sobre a devolução dos corpos de reféns.

Rafah segue fechada

A passagem de Rafah, entre Egito e Gaza, ainda não foi reaberta para o transporte de ajuda humanitária.

O COGAT, órgão militar israelense responsável pela coordenação da ajuda, informou que a reabertura está sendo “coordenada com o Egito”, mas sem data definida. Mesmo quando for reaberta, permitirá apenas o trânsito de pessoas, não de suprimentos.

“A ajuda humanitária não passará pela passagem de Rafah”, afirmou um porta-voz do COGAT. “As entregas continuarão apenas pelas travessias de Kerem Shalom e outras, após inspeção de segurança israelense.”

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