Iminente, queda do Hamas pode gerar caos em Gaza e ampliar ameaça a Israel, diz analista

Artigo publicado por jornal israelense aponta risco de colapso total no enclave e cobra uma decisão estratégica de Benjamin Netanyahu

A ausência de um plano estratégico do governo de Israel para a Faixa de Gaza após o fim da guerra contra o Hamas pode levar a região ao colapso completo da ordem civil, gerando problemas ainda maiores inclusive para o estado judeu. A advertência é do jornalista Jack Khoury, em artigo de opinião publicado nesta semana pelo jornal israelense Haaretz. Segundo ele, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu continua sem apresentar um projeto claro para o futuro do enclave, mesmo diante da iminente queda do grupo fundamentalista palestino.

“A Faixa de Gaza, lar de dois milhões de pessoas, não pode permanecer em um vácuo de governança por muito tempo. O governo do Hamas já está entrando em colapso e, com ele, a estrutura básica da ordem civil”, diz o texto. “Se Israel não tomar uma decisão clara sobre o futuro de Gaza, o vácuo será preenchido por forças ainda mais perigosas”, acrescenta.

O jornalista aponta que, com o colapso da autoridade do Hamas, o vácuo de poder vem sendo preenchido por gangues armadas, saqueadores, facções radicais e grupos ligados à Autoridade Palestina. A disputa por territórios e centros de distribuição de ajuda humanitária já gera episódios de caos, como alertado anteriormente pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Veículos blindados das IDF operando perto da fronteira de Gaza (Foto: Israel Defense Forces/Flickr)

Khoury apresenta três possíveis caminhos para o governo israelense, todos com altos custos políticos e humanitários. A primeira alternativa, defendida por setores da extrema direita do país, seria retomar o controle total sobre Gaza e até reinstalar assentamentos judeus, plano que ele classifica como “fantasia perigosa”. Isso exigiria bilhões do orçamento nacional, milhares de soldados e infraestrutura civil. “Israel enfrentaria uma dura reação internacional, e os acordos de normalização com Estados árabes provavelmente estagnariam”, alerta.

A segunda opção seria entregar a administração da Faixa de Gaza à Autoridade Palestina, com apoio do Egito, da Arábia Saudita e da comunidade internacional. No entanto, sem avanços concretos rumo a uma solução política definitiva, essa alternativa também corre risco de fracasso. “Não se trata de mais uma tentativa de ‘gerenciar’ o conflito, mas de um esforço sincero para encerrá-lo”, escreveu o autor.

Por fim, o cenário mais provável — e mais temido — seria o abandono total de Gaza, transformando a região em um território sem lei, dominado por milícias armadas e ideologias extremistas. “Ela rapidamente se tornará a Mogadíscio do Oriente Médio: uma terra de ninguém armada até os dentes”, alerta Khoury, citando a capital da Somália, hoje atingida duramente pelas ações do Al-Shabaab, grupo extremista vinculado à Al-Qaeda.

Segundo o autor, acreditar que o caos permanecerá isolado “lá” é uma ilusão. “A hostilidade contra Israel só crescerá, o crime e a violência transbordarão as fronteiras de Gaza, e o contrabando aumentará”, projeta.

Para o articulista, enquanto o governo continuar se escondendo por trás do slogan “derrotar o Hamas”, a falta de uma decisão estratégica tornará qualquer vitória militar momentânea. “O governo israelense e seu primeiro-ministro precisam tomar uma decisão definitiva e duradoura sobre o que fazer com Gaza”, concluiu.

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