Irã está por trás dos ataques dos Houthis a navios no Mar Vermelho, dizem autoridades

Teerã fornece armas e dados cruciais para viabilizar os ataques realizados pelos rebeldes contra embarcações comerciais

Os ataques realizados pelos Houthis contra navios comerciais no Mar Vermelho não seriam possíveis sem o apoio direto do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (CGRI) do Irã. A agência Reuters diz ter ouvido quatro autoridades, cujas identidades foram mantidas em sigilo, segundo as quais Teerã não só equipa os rebeldes iemenitas, como também enviou representantes para treiná-los e supervisionar os ataques.

Os Houthis têm atacado embarcações sob o argumento de que elas servem a Israel. Trata-se de uma resposta direta à operação militar do Estado judeu na Faixa de Gaza, que por sua vez é uma reação ao ataque do Hamas em território israelense ocorrido em 7 de outubro.

As agressões dos Houthis, que usam drones e mísseis em seus ataques, levaram algumas companhias a mudarem suas rotas de transporte, encarecendo o frete e gerando a expectativa de que a economia global seja afetada. Pela região passa cerca de 15% do comércio global.

Não é de agora que o Ocidente acusa o governo iraniano de financiar, armar e treinar os rebeldes. Porém, segundo a Reuters, o apoio de Teerã aumentou ultimamente, com orientação técnica, informações de inteligência e outros dados que permitem aos Houthis identificar, localizar e atacar os navios com uma precisão surpreendente.

Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã exibe suas armas (Foto: Hossein Zohrevand/WikiCommons)

“A Guarda Revolucionária tem ajudado os Houthis com treinamento militar (em armas avançadas)”, disse uma fonte iraniana. “Um grupo de combatentes houthi esteve no Irã no mês passado e foi treinado numa base do CGRI no centro do Irã para se familiarizar com a nova tecnologia e o uso de mísseis.”

Segundo o mesmo informante, o oposto também ocorreu, com representantes militares do Irã enviados ao Iêmen, onde foi estabelecido um centro de comando a partir do qual Teerã e os Houthis orquestram os ataques no Mar Vermelho.

Abdulaziz al-Sager, diretor do think tank Centro de Pesquisa do Golf, endossou as alegações e disse que o apoio do Irã ajuda a explicar o surpreendente sucesso dos ataques realizados pelos rebeldes iemenitas.

“Os Houthis não estão agindo de forma independente”, disse o analista. “Os Houthis, com seu pessoal, experiência e capacidades, não são tão avançados. Dezenas de navios atravessam Bab al-Mandab diariamente, e os Houthis não têm meios, recursos, conhecimento ou informação de satélite para encontrar o alvo específico e atacar.”

Avaliação idêntica fez Abdulghani Al-Iryani, pesquisador sênior do Centro de Estudos Estratégicos de Sanaa. “É claramente verdade que os iranianos estão ajudando a identificar o alvo e o destino. Não há capacidade local houthi de fazer isso”, afirmou.

No final de dezembro, a Casa Branca já havia acusado o Irã de estar “profundamente envolvido” no planejamento dos ataques. “Isto é consistente com o apoio material de longo prazo do Irã e o incentivo às ações desestabilizadoras dos Houthis na região”, disse na ocasião a porta-voz de segurança nacional Adrienne Watson.

Uma autoridade do setor de segurança, figura próxima do governo iraniano, confirmou o papel do país como facilitador dos ataques. “Os Houthis têm drones, mísseis e tudo o que é necessário para a sua luta contra Israel, mas precisavam de orientação e aconselhamento sobre rotas marítimas e navios, e isso isso lhes foi fornecido pelo Irã”, afirmou.

A reportagem destaca ainda o envolvimento do grupo extremista Hezbollah, do Líbano, com os ataques, embora o papel pareça reduzido se comparado ao do Irã. Membros da organização libanesa serviriam como porta-vozes do Irã no Iêmen, segundo uma autoridade local. “A decisão política está em Teerã, a gestão é do Hezbollah e a localização são os Houthis no Iêmen”, declarou.

Os Houthis confirmam a aliança, embora aleguem não ter recebido ordens para atacar. “Não negamos que temos uma relação com o Irã e que nos beneficiamos da experiência iraniana em formação, produção e capacidades militares”, disse Mohammed Abdulsalam, porta-voz dos rebeldes. “Mas a decisão tomada pelo Iêmen é independente e não tem nada a ver com qualquer outra parte.”

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