Em um movimento que amplia a complexidade do conflito na Faixa de Gaza, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, confirmou que seu governo vem apoiando grupos palestinos rivais do Hamas com armas e suporte logístico. “Israel está ativando clãs em Gaza”, disse ele em resposta às críticas do líder oposicionista Avigdor Lieberman. As informações são do jornal Financial Times.
A declaração veio à tona depois que Lieberman, ex-ministro da Defesa e líder do partido Yisrael Beiteinu, acusou o governo israelense de “fornecer armas a um grupo de criminosos e marginais para servir como contrapeso ao Hamas”. Netanyahu não apenas confirmou a denúncia, como defendeu a estratégia, argumentando que “isso é bom, salva a vida de soldados [israelenses]”.

Segundo fontes ouvidas pelo jornal, desde os primeiros dias da guerra — deflagrada após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 — oficiais israelenses têm buscado enfraquecer o grupo ao apoiar facções rivais palestinas.
O caso mais emblemático é o de Yasser Abu Shabab, figura conhecida em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Dono de um histórico de envolvimento com o desvio de ajuda humanitária, ele agora se apresenta como líder de uma força popular com o objetivo declarado de “defender nosso povo da opressão e terrorismo do governo de fato”, em referência ao Hamas.
Vídeos e fotos nas redes sociais mostram Abu Shabab armado, escoltando comboios de ajuda e discursando em nome da segurança dos civis. Em uma gravação publicada nesta semana em sua página no Facebook, uma voz afirma: “Nossas forças populares foram formadas para defender nosso povo da opressão e terrorismo do governo de fato [Hamas] e para enfrentar o caos e a corrupção”.
Embora Israel não tenha confirmado oficialmente a ligação direta com Abu Shabab, analistas, moradores locais e representantes de organizações internacionais dizem não haver dúvidas sobre o aval israelense. “Não há chance de uma milícia armada operar às claras como essa sem o consentimento de Israel, e definitivamente não em Rafah”, afirmou Michael Milshtein, ex-oficial de inteligência militar israelense.
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) não comentam a relação com a milícia. Já um suposto porta-voz do grupo, contatado por meio da página de Abu Shabab, negou qualquer vínculo com as forças israelenses. Apesar disso, o movimento coincide com os esforços de Tel Aviv para estabelecer zonas “estéreis”, livres do Hamas, no sul de Gaza, modelo que as autoridades israelenses pretendem replicar em outras regiões.