O governo brasileiro se manifestou sobre o episódio em que mais de cem civis palestinos foram mortos pelas forças israelenses quando se aglomeravam em busca de ajuda humanitária em Gaza, na quinta-feira (29). O Itamaraty afirmou que o “massacre” se soma às mais de 30 mil mortes no enclave, destacou que 12 mil vítimas são crianças e novamente criticou o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
“O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores em comunicado. “E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão.”
Israel admitiu que seus soldados atiraram contra a multidão de civis que buscavam desesperadamente comida junto a um comboio de ajuda humanitária que estava estacionado, segundo a agência Reuters. Alegou, no entanto, que os disparos foram efetuados porque os militares consideraram que a multidão representava uma ameaça.
O governo israelense também argumentou que a maioria das mortes ocorreu porque as pessoas foram pisoteadas ou atropeladas em meio ao tumulto. Mohammed Salha, diretor interino do Hospital Al-Awda, que atendeu alguns dos feridos, confirmou à agência Associated Press (AP) que houve civis mortos ou feridos em função da debandada. Porém, disse que 80% dos pacientes que recebeu foram baleados. As autoridades locais falam em 112 mortos e 750 feridos.
A partir do episódio, o governo brasileiro reiterou “a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns.” E acrescentou: “A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.”
O comunicado igualmente cobra medidas efetivas da comunidade internacional, dizendo que a inação diante dessa “tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional.”
E acrescenta: “Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana.”
A reação da comunidade internacional
Se em manifestações anteriores o Brasil se viu isolado, desta vez tem a companhia de outros países nas críticas a Israel e no pedido por uma resposta adequada.
O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, disse que Washington manteve contato com o governo israelense, segundo o qual “uma investigação está em andamento”, conforme relatou a rede CNN.
Na mesma coletiva, Míller ainda afirmou que “muitos palestinos inocentes foram mortos durante este conflito, não apenas hoje, mas ao longo dos últimos quase cinco meses.” E acrescentou: “Se há algo que as imagens aéreas do incidente de hoje deixam claro é o quão desesperadora é a situação no terreno.”
Stéphane Séjourné, ministro das Relações Exteriores da França, usou a conta dele na rede social X, antigo Twitter, para dizer que Paris “apoiará o apelo da ONU por uma investigação independente sobre os acontecimentos injustificáveis da noite passada em Gaza.”
Nous soutiendrons la demande de l’ONU d'une enquête indépendante sur les événements injustifiables de la nuit dernière à Gaza.#le69inter pic.twitter.com/NWeiY3pSDm
— Stéphane Séjourné (@steph_sejourne) March 1, 2024
Annalena Baerbock, chefe da diplomacia alemã, também usou o X para se pronunciar. “Os relatos de Gaza me chocam. O exército israelense deve explicar cabalmente como é que o pânico em massa e os tiroteios puderam ter ocorrido”, disse. “Em Gaza, as pessoas estão mais próximas de morrer do que de viver. É necessária mais ajuda humanitária. Imediatamente.”
Por sua vez, o britânico David Cameron, também secretário das Relações Exteriores, assinou um comunicado no qual chama o episódio de “horrível”. Ele se foca no pedido por mais ajuda humanitária e por uma “pausa humanitária imediata”, sem fazer menção a uma eventual investigação.
“Israel tem a obrigação de garantir que uma quantidade significativamente maior de ajuda humanitária chegue à população de Gaza”, diz ele no texto. “Uma pausa sustentada nos combates é a única forma de obter ajuda vital na escala necessária e libertar os reféns cruelmente detidos pelo Hamas.”