Itamaraty condena ‘massacre’ em Gaza e diz que Netanyahu não tem ‘limite ético ou legal’

Governo brasileiro condena assassinato de civis em busca de ajuda humanitária e diz que 'cabe à comunidade internacional dar um basta'

O governo brasileiro se manifestou sobre o episódio em que mais de cem civis palestinos foram mortos pelas forças israelenses quando se aglomeravam em busca de ajuda humanitária em Gaza, na quinta-feira (29). O Itamaraty afirmou que o “massacre” se soma às mais de 30 mil mortes no enclave, destacou que 12 mil vítimas são crianças e novamente criticou o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

“O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores em comunicado. “E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão.”

Israel admitiu que seus soldados atiraram contra a multidão de civis que buscavam desesperadamente comida junto a um comboio de ajuda humanitária que estava estacionado, segundo a agência Reuters. Alegou, no entanto, que os disparos foram efetuados porque os militares consideraram que a multidão representava uma ameaça.

O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, em 2019 (Foto: Palácio do Planalto/Flickr)

O governo israelense também argumentou que a maioria das mortes ocorreu porque as pessoas foram pisoteadas ou atropeladas em meio ao tumulto. Mohammed Salha, diretor interino do Hospital Al-Awda, que atendeu alguns dos feridos, confirmou à agência Associated Press (AP) que houve civis mortos ou feridos em função da debandada. Porém, disse que 80% dos pacientes que recebeu foram baleados. As autoridades locais falam em 112 mortos e 750 feridos.

A partir do episódio, o governo brasileiro reiterou “a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns.” E acrescentou: “A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.”

O comunicado igualmente cobra medidas efetivas da comunidade internacional, dizendo que a inação diante dessa “tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional.”

E acrescenta: “Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana.”

A reação da comunidade internacional

Se em manifestações anteriores o Brasil se viu isolado, desta vez tem a companhia de outros países nas críticas a Israel e no pedido por uma resposta adequada.

O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, disse que Washington manteve contato com o governo israelense, segundo o qual “uma investigação está em andamento”, conforme relatou a rede CNN.

Na mesma coletiva, Míller ainda afirmou que “muitos palestinos inocentes foram mortos durante este conflito, não apenas hoje, mas ao longo dos últimos quase cinco meses.” E acrescentou: “Se há algo que as imagens aéreas do incidente de hoje deixam claro é o quão desesperadora é a situação no terreno.”

Stéphane Séjourné, ministro das Relações Exteriores da França, usou a conta dele na rede social X, antigo Twitter, para dizer que Paris “apoiará o apelo da ONU por uma investigação independente sobre os acontecimentos injustificáveis ​​da noite passada em Gaza.”

Annalena Baerbock, chefe da diplomacia alemã, também usou o X para se pronunciar. “Os relatos de Gaza me chocam. O exército israelense deve explicar cabalmente como é que o pânico em massa e os tiroteios puderam ter ocorrido”, disse. “Em Gaza, as pessoas estão mais próximas de morrer do que de viver. É necessária mais ajuda humanitária. Imediatamente.”

Por sua vez, o britânico David Cameron, também secretário das Relações Exteriores, assinou um comunicado no qual chama o episódio de “horrível”. Ele se foca no pedido por mais ajuda humanitária e por uma “pausa humanitária imediata”, sem fazer menção a uma eventual investigação.

“Israel tem a obrigação de garantir que uma quantidade significativamente maior de ajuda humanitária chegue à população de Gaza”, diz ele no texto. “Uma pausa sustentada nos combates é a única forma de obter ajuda vital na escala necessária e libertar os reféns cruelmente detidos pelo Hamas.”

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