Médicos de Gaza se dizem ‘aterrorizados’ com surto de doença mortal no enclave

Diarreia e infecções respiratórias estão entre os problemas que afetam sobretudo crianças, além da violência inerente ao conflito

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Conforme a pausa nos combates em Gaza entrou no quinto dia na terça-feira (27), os humanitários da ONU (Organização das Nações Unidas) alertaram que as entregas de ajuda precisavam se multiplicar imediatamente para salvar as vidas dos feridos e conter o risco de um surto de doença mortal que deixou os médicos “aterrorizados”.

As prioridades incluem o transporte de combustível para o norte do enclave devastado pela guerra, para que possa ser utilizado para abastecer hospitais, fornecer água potável e manter outras infraestruturas civis vitais.

Esses serviços foram enormemente afetados por semanas de bombardeamentos israelenses em resposta ao massacre do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, que deixou cerca de 1,2 mil mortos e cerca de 240 feitos reféns.

As autoridades de saúde de Gaza relataram que mais de 15 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, haviam sido mortas em ataques de Israel até terça.

Palestinos transportam os feridos para o Hospital Indonésio em Jabalia, ao norte da Faixa de Gaza, em 9 de outubro de 2023 (Foto: WikiCommons)
Ameaças aéreas e terrestres

Em atualização do sul de Gaza, o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Elder, disse que um médico do hospital Al-Shifa, no norte, disse que as ameaças às crianças vinham “muito do ar e agora muito no terreno”, na forma de diarreia e infecções respiratórias.

“Ele estava aterrorizado como profissional médico em termos do surto de doença que está à espreita aqui e como isso irá devastar as crianças cujo sistema imunológico e a falta de comida… estão tornando-as perigosamente fracas ”, acrescentou.

À medida que prosseguem as negociações para libertação de mais reféns em troca de uma pausa mais longa nos combates, o Unicef falou da sua consternação ao ver tantos jovens lutando pela vida, “com horríveis feridas de guerra, (deitados) em colchões improvisados em estacionamento, em jardins por toda parte, médicos tendo que tomar decisões horríveis sobre quem priorizam.”

Atrasos mortais

Outro rapaz cuja perna foi arrancada durante a violência passou “três ou quatro dias” tentando chegar ao sul, atrasado pelos postos de controle, segundo Elder. “O cheiro (de decomposição) era claro… e aquele menino estava com estilhaços por toda parte. Potencialmente, ele estava cego e teve queimaduras em 50% do corpo.”

Ecoando profundas preocupações sobre a escala das necessidades em Gaza, a Organização Mundial da Saúde (OMS) observou que uma avaliação realizada no norte, no início da pausa nos combates em 24 de novembro, mostrou que “todas as pessoas, em todos os lugares, têm necessidades terríveis de saúde.”

Risco de fome

Falando em Genebra, a porta-voz da OMS, Margaret Harris, disse que isso acontecia “porque eles estão morrendo de fome, porque não têm água potável e estão amontoados. Basicamente, se você estiver doente, se seu filho tiver diarreia, se você tiver uma infecção respiratória, você não receberá nenhuma (ajuda).”

Na sua última atualização, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) afirmou que as entregas de ajuda humanitária foram aceleradas a sul de Wadi Gaza, onde a maior parte dos cerca de 1,7 milhões de pessoas deslocadas internamente procuraram abrigo.

“Os principais prestadores de serviços, incluindo hospitais, instalações de água e saneamento e abrigos, continuaram a receber combustível diariamente para operar geradores”, informou o órgão.

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