Um ataque em grande escala realizado pelo Hamas, grupo radical que controla a Faixa de Gaza, pegou Israel de surpresa no sábado (7). A ofensiva envolveu parapentes motorizados, motos e cerca de mil combatentes, além de aproximadamente três mil foguetes disparados contra o território israelense. Após a agressão, Israel declarou guerra aos insurgentes e autorizou suas forças a adotarem “medidas militares significativas”. O bloqueio imposto à empobrecida região foi endurecido, com um “cerco completo” imposto para reconquistar quatro posições estratégicas dos militantes.
“Este é o nosso 11 de Setembro. Eles nos pegaram”, disse o major Nir Dinar, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), referindo-se ao ataque terrorista da Al-Qaeda que também pegou os Estados Unidos de guarda baixa em 2001. “Eles nos surpreenderam e vieram rapidamente de muitos lugares, tanto do ar quanto da terra e do mar”, acrescentou ele, segundo a agência Reuters.
A ação dos militantes matou cerca de 700 pessoas em Israel, de acordo com a agência Associated Press (AP). Entre elas, 260 que estavam em uma festa de música eletrônica, desde já palco do maior massacre de civis da história de Israel. Enquanto alguns militantes invadiram o evento e abriram fogo contra os jovens, outros sequestraram pessoas no entorno do local, incluindo mulheres e crianças.
A resposta israelense foi dura e imediata, com mais de 800 alvos atingidos em Gaza até o domingo (8). A cidade de Beit Hanoun, no nordeste do enclave e uma das bases de onde o Hamas disparou seu ataque, foi duramente atingida pela operações aéreas de Israel.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, até esta segunda (9) já haviam sido registradas 493 mortes, sendo que entre as vítimas estariam 73 combatentes, 78 crianças e 41 mulheres. Israel, por sua vez, diz que aproximadamente 400 militantes foram mortos, sem citar baixas de civis, segundo a AP.
Ataque surpresa
Segundo fontes ouvidas pela Reuters, a maioria tendo falado sob a condição de anonimato, a ação do Hamas só foi possível graças ao maior erro de inteligência e defesa de Israel desde a Guerra do Yom Kippur, desencadeada por uma ofensiva igualmente surpreendente liderada por Síria e Egito.
Para tanto, o Hamas teria usado os últimos dois anos para construir uma falsa imagem de moderação, levando Israel a acreditar que o grupo havia se cansado de lutar e tinha como maior preocupação atender economicamente a empobrecida população de Gaza.
“O Hamas deu a Israel a impressão de que não estava preparado para lutar”, disse uma fonte dos serviços de inteligência de Israel que mantém relação próxima com o Hamas. “O Hamas usou uma tática de inteligência sem precedentes para enganar Israel nos últimos meses, dando a impressão pública de que não estava disposto a entrar em luta ou confronto com Israel enquanto se preparava para esta operação massiva.”
Durante a preparação para o ataque, o Hamas chegou a construir um falso assentamento judeu em Gaza para treinar o desembarque militar e a invasão. “Israel certamente os viu, mas eles estavam convencidos de que o Hamas não estava interessado em entrar em confronto”, disse a mesma fonte.
Resposta dura
Embora a ofensiva do Hamas tenha sido bem-sucedida, a reação de Israel vem sendo dura e tende a se manter assim. “O Hamas provavelmente teve um sucesso além das suas expectativas. Agora eles terão que lidar com um Israel determinado a dizimá-los”, disse à Reuters Dennis Ross, que foi conselheiro do ex-presidente norte-americano Barack Obama e hoje trabalha para o think tank pró-Israel Instituto Washington para Política do Oriente Próximo.
O general aposentado Yaakov Amidror, ex-conselheiro de segurança nacional do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, também prometeu que não haverá moderação na resposta. Segundo ele, o ataque só foi possível graças a “uma enorme falha do sistema de inteligência e do aparato militar” de Israel.
Amidror admitiu que o governo israelense foi levado a crer que o Hamas realmente havia adotado um tom mais moderado. “Nós estupidamente começamos a acreditar que era verdade”, disse ele. “Portanto, cometemos um erro. Não cometeremos esse erro novamente e destruiremos o Hamas, lenta mas seguramente.”