ONG pede libertação imediata de funcionários da ONU detidos pelos Houthis no Iêmen

Rebeldes apoiados pelo Irã prenderam pelo menos 27 integrantes das Nações Unidas e de outras organizações internacionais

A ONG Anistia Internacional (AI) instou nesta quarta-feira (4) as autoridades Houthis do Iêmen a libertarem imediatamente 13 funcionários da ONU (Organização das Nações Unidas) e pelo menos 14 funcionários de organizações da sociedade civil, tanto iemenitas quanto internacionais, que estão detidos arbitrariamente há um mês.

No mês passado, as forças de segurança Houthis, rebeldes apoiados pelo Irã, realizaram uma série de ataques em Sana’a, Hodiedah e Hajjah, resultando na prisão de pelo menos 27 funcionários — quatro mulheres e 23 homens — pertencentes a agências da ONU e a pelo menos sete organizações locais e internacionais, retirando-os de suas casas ou escritórios. As autoridades rebeldes não revelaram o paradeiro dos detidos às suas famílias. Além disso, os detidos estão incomunicáveis e foram privados do direito de acesso a aconselhamento jurídico ou de contatar suas famílias.

Diala Haidar, pesquisadora do Iêmen na AI, destacou que as recentes prisões em massa da comunidade humanitária e de direitos humanos pelas autoridades Houthis refletem uma escalada preocupante da repressão contra a sociedade civil. Ela alertou que essas ações “só intensificarão a já grave crise humanitária e de direitos humanos no Iêmen”, já que muitos dos detidos estavam envolvidos na prestação de assistência e proteção aos mais vulneráveis.

Os Houthis, também conhecidos como Ansar Allah (Partidários de Deus), são um grupo rebelde armado baseado no Iêmen (Foto: WikiCommons)

Haidar enfatizou a urgência de libertar imediatamente todos os funcionários da ONU e da sociedade civil detidos injustamente, e instou as autoridades Houthis a cessarem sua contínua repressão aos direitos fundamentais de liberdade de expressão e associação.

Durante o período de 31 de maio a 9 de junho, as forças de segurança Houthis realizaram incursões em larga escala nos escritórios e residências dos funcionários detidos, chegando a fechar bairros inteiros em alguns casos. Durante essas operações, eles confiscaram e examinaram telefones, laptops, discos rígidos, documentos pessoais e de trabalho, além de fotografias. Além disso, pelo menos três familiares dos detidos, incluindo duas crianças, foram detidos por pelo menos 10 dias.

As forças de segurança Houthis convocaram e interrogaram funcionários de organizações da sociedade civil após incursões, colocando alguns em prisão domiciliar e proibindo-os de deixar Sana’a. A Anistia Internacional entrevistou especialistas, advogados e indivíduos familiarizados com a situação.

Medo

As recentes prisões feitas pelos Houthis deixaram os trabalhadores de organizações da sociedade civil apreensivos, temendo ser presos ou sofrer represálias simplesmente por fazerem seus trabalhos. Essas detenções coincidiram com uma campanha de mídia conduzida pelos Huthis, que acusaram equipes de organizações humanitárias de conspirar contra os interesses nacionais através de seus projetos.

Um especialista comentou: “Estamos preocupados em enfrentar o mesmo destino. Há uma clara intenção de limitar o espaço para atividades civis. Os Houthis estão evitando responsabilidades pela piora das condições de vida sob seu governo, usando organizações da sociedade civil como bodes expiatórios e acusando-as de conspirar contra o país.”

Após as prisões, em 10 de junho, o Serviço de Segurança e Inteligência Houthi afirmou ter descoberto uma suposta “rede de espionagem”. Dois dias depois, a Al Masirah TV, um canal ligado aos rebeldes, transmitiu um vídeo mostrando um grupo diferente de detidos que foram capturados entre 2021 e 2023 e mantidos incomunicáveis desde então, “confessando” atos de espionagem.

Os rebeldes houthis têm histórico de atacar trabalhadores humanitários e defensores dos direitos humanos. Quatro funcionários iemenitas da ONU, pertencentes ao OHCHR (Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos) e à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), foram presos em 2021 e 2023 e continuam detidos arbitrariamente, sem comunicação desde então.

Em setembro de 2023, os houthis também prenderam Hisham Al-Hakimi, diretor de segurança da Save the Children, mantendo-o incomunicável. Ele faleceu em 25 de outubro enquanto ainda estava sob detenção arbitrária.

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