A morte brutal de Uday Rabie, de 22 anos, gerou comoção na Faixa de Gaza e reacendeu o alerta para a repressão contra vozes críticas ao Hamas no território. O jovem foi sequestrado por combatentes do braço armado do grupo, as Brigadas Al-Qassam, após participar de um raro protesto contra a liderança local, segundo relatos de sua família à rede CNN.
O sequestro aconteceu na última sexta-feira (29), no bairro de Tal al-Hawa, em Gaza, dias depois de Rabie se juntar a manifestações que reuniram milhares de palestinos em protesto contra o Hamas e a guerra em curso. Durante o ato, realizado no bairro de al-Rimal, ele entoou palavras de ordem como “Não ao Hamas”, conforme contou seu irmão, Hassan Rabie.

Pouco antes de ser levado, Rabie já havia relatado temer represálias. Um vídeo gravado cerca de uma semana antes mostrava o jovem dizendo o Hamas “quer me pegar, quer me matar”. Segundo Hassan, o irmão teve desentendimentos com membros do grupo um mês antes e passou a ser ameaçado.
Depois de horas de buscas, a família foi informada que ele estava nas mãos dos militantes. “Eles o levaram, o torturaram e depois me ligaram dizendo: venha buscar seu irmão”, disse Hassan. Rabie foi devolvido à família ainda vivo, apenas de roupa íntima, amarrado pelo pescoço com uma corda e coberto de hematomas. “Eles o arrastavam e batiam nele”, contou o irmão.
Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram Rabie deitado em uma maca de hospital, com ferimentos profundos nos braços, costas e pés. Pouco depois de chegar ao hospital, ele morreu. Uma foto enviada à imprensa pela família revela seu rosto desfigurado, com partes do cabelo e uma das sobrancelhas raspadas. Em nota divulgada no Facebook, os parentes acusam diretamente as Brigadas Al-Qassam e exigem justiça: “Foi torturado da maneira mais severa, com todo tipo de objetos cortantes e duros.”
A Comissão Independente para Direitos Humanos, criada pela liderança palestina nos anos 1990, classificou o assassinato como reflexo do “caos de segurança, proliferação de armas e ausência do Estado de direito em Gaza”, alertando para o risco crescente à liberdade de expressão no enclave.