Iraque diz que Al-Hol virou ‘fonte de terrorismo’ e pede que países repatriem seus cidadãos

Campo de deslocados e refugiados localizado na Síria abriga mais de 50 mil pessoas, muitas delas familiares de extremistas

O campo para refugiados e deslocados de Al-Hol, no nordeste da Síria, perto da fronteira com o Iraque, abriga mais de 50 mil pessoas, muitas delas familiares de combatentes do Estado Islâmico (EI) mortos ou presos quando o grupo foi derrotado. Na segunda-feira (12), durante conferência em Bagdá, o governo iraquiano pediu aos países que têm cidadãos ali detidos que os repatriem, alegando que as instalações se tornaram “fonte de terrorismo”. As informações são da agência Associated Press (AP).

Embora a maioria dos detidos em Al-Hol tenha nacionalidade iraquiana ou síria, há muitos estrangeiros. São ao menos oito mil pessoas de 60 nacionalidades diferentes, invariavelmente rejeitadas pelos países de origem. O argumento para que não possam retornar para casa é o mesmo do governo do Iraque: tais pessoas, sobretudo mulheres e crianças, são radicais apoiadores do EI.

Crianças esperam mantimentos no campo de Al-Hol, abril de 2020 (Foto: Unicef/Deil Souleiman)

A conferência desta semana contou com autoridades iraquianas, o representante da ONU (Organização das Nações Unidas) no Iraque, membros da coalizão internacional que combate o EI e embaixadores de vários países. Durante o evento, manifestou-se especial preocupação com as crianças, que em Al-Hol são expostas à ideologia extremista e tornam-se propensas a formar uma futura geração de insurgentes.

“Acabar com a questão do campo de Al-Hol tornou-se um grande interesse nacional para o Iraque”, disse Ahmad Sahhaf, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraquiano. Segundo ele, é necessário “repatriá-los o mais rápido possível para eventualmente fechar o campo, hoje um epicentro perigoso.”

O Iraque já iniciou o processo de repatriamento. Qasim al-Araji, conselheiro de Segurança do país, 1.396 famílias, totalizando 5.569 pessoas, foram levadas de volta ao território iraquiano. Ainda assim, cerca de 25 mil iraquianos seguem em Al-Hol, quase metade da população total do campo, que no auge da ocupação chegou a ter 73 mil detidos.

Por que isso importa?

Al-Hol é o maior campo de refugiados e deslocados internos na Síria, com cerca de 51 mil pessoas, sendo mais de 80% mulheres e crianças. Por volta de oito mil dos detidos são familiares de combatentes estrangeiros do EI que viajaram à Síria para se juntar à jihad. Eles foram colocados no campo após o grupo extremista ser derrotado em 2019 pelas FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA.

Agora, essas pessoas são rejeitadas inclusive por seus países de origem, pois se radicalizaram a longo dos anos e representariam uma ameaça à segurança. No campo, familiares de jihadistas são mantidos em um complexo separado e vigiado, após relatos de surtos de violência entre eles e outras pessoas dentro da instalação.

Com condições precárias de higiene e saúde, os moradores de Al-Hol vivem à sombra da violência e da insegurança. São comuns as ações de grupos armados que tentam invadir o campo com o objetivo de libertar pessoas detidas. Somente no ano passado, mais de 90 pessoas foram mortas em Al-Hol.  

“Milhares de pessoas estão expostas a violência, exploração, abuso e privação em condições que podem constituir tortura, conforme o direito internacional”, disse no início de 2021 um grupo de especialistas em direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), citando que ao menos 57 países têm cidadãos detidos nos campos da Síria, sobretudo Al-Hol e Al-Roj.

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