Junta militar de Mianmar manda prender parente de ex-ditador local

Nay Soe Maung é acusado de ligação com organizações terroristas após manifestar oposição ao golpe militar de 2021 no país

As autoridades militares de Mianmar determinaram na semana passada a prisão de Nay Soe Maung, genro do ex-ditador local Than Shwe. Ele é acusado de ameaçar a segurança nacional e de perturbar a paz por publicar nas redes sociais postagens contra o regime. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

As publicações em seus canais pessoais geraram contra Nay levaram o governo militar birmanês a afirmar que ele está envolvido com organizações terroristas, permitindo a formalização de acusações adicionais pelos crimes de sedição e incitação ao medo.

“Essas pessoas destruíram a paz e a estabilidade nacionais ao espalhar o medo entre o público”, disse o Ministério da Informação após a prisão, referindo-se a grupos pró-democracia que se opõem ao golpe de EEstado de fevereiro de 2021 e aos quais Nay é acusado de ter se associado. “Eles decidiram quebrar os mecanismos do governo, incitando, espalhando propaganda e ameaçando por meio das mídias sociais de várias maneiras.”

Nay Soe Maung, genro do ex-ditador de Mianmar Than Shww (Foto: Facebook/reprodução)

Nay é ele próprio um ex-militar, hoje médico, e o sogro dele foi o chefe da junta que governou o país de forma autoritária entre 1992 e 2011. Ele fez ais de uma publicação em sua página no Facebook manifestando oposição ao golpe de Estado de 2021.

Como médico, o genro do ex-ditador ofereceu tratamento a pessoas feridas pelas forças de segurança em protestos populares e contestou as circunstâncias da morte do líder democrático Zaw Mynit Maung, uma das primeiras pessoas presas quando os militares assumiram o poder em 2021.

A popularidade de Maung forçou os militares a aceitarem a transferência dele da prisão para um hospital, onde não conseguiu vencer a luta contra o câncer. Nay, entretanto, diz que durante o cárcere o líder democrático não recebeu tratamento adequado, o que teria colaborado para sua morte.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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