Com o avanço da guerra na Ucrânia e o risco crescente de um conflito se espalhar pelo flanco leste da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), países bálticos e aliados como a Polônia estão investindo em planos emergenciais para garantir a operação de hospitais e redes de saúde sob ataque. Lituânia, Estônia e Letônia ampliaram exercícios de simulação de guerra, criaram estoques estratégicos e adaptaram estruturas hospitalares para operar mesmo sob bombardeios. As informações são do site Politico.
Na Lituânia, sete grandes simulações militares com participação de equipes de saúde estão previstas para este ano. O país também está criando sua primeira equipe médica de emergência com foco em cenários de conflito. O hospital universitário de Vilnius já realiza treinamentos de evacuação e simulações de atendimento em massa em parceria com as Forças Armadas. Na prática, salas cirúrgicas e centros de triagem estão sendo transferidos para áreas subterrâneas.
Na Estônia, o governo investiu 25 milhões de euros em kits para atendimento a vítimas de trauma, equipamentos ortopédicos e insumos para cenários de múltiplos feridos. As autoridades também adquiriram unidades médicas móveis e coletes balísticos para profissionais de emergência, além de implantarem sistemas de comunicação via satélite e planos para criar uma rede de internet independente, caso as comunicações convencionais sejam comprometidas.

Desde a pandemia de Covid-19, Letônia e Lituânia passaram a exigir que hospitais mantenham estoques de medicamentos suficientes para três meses. A experiência recente com bombardeios a hospitais na Ucrânia acelerou a adoção de geradores próprios de energia e sistemas autônomos de abastecimento de água. Segundo o governo letão, esse modelo garantirá operação mínima até que suprimentos externos cheguem via Otan ou União Europeia (UE).
O desafio, segundo as autoridades, não é apenas estrutural. Levantamentos internos apontam que parte significativa dos profissionais de saúde pode não permanecer em seus postos em caso de guerra. Na Lituânia, mais de 25% dos trabalhadores da saúde declararam que provavelmente deixariam o país se o conflito chegasse. Na Estônia, entre 50% e 60% da população afirma não saber ainda como reagiria em caso de invasão.
Para lidar com esse risco, hospitais vêm designando equipes críticas e exigindo a assinatura de termos de compromisso. A Letônia já distribui declarações de mobilização obrigatória a médicos de áreas estratégicas. “Precisamos garantir que não só os equipamentos estejam prontos, mas que as pessoas saibam o que fazer”, disse Rūdolfs Vilde, pneumologista do principal hospital universitário de Riga.
A Polônia, que exerce atualmente a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, colocou a preparação médica para conflitos como tema central de sua atuação. O governo defende a criação de estoques estratégicos coordenados em nível europeu. “Não é possível preparar planos de contingência para os setores militar, energético ou econômico e deixar a saúde de fora”, afirmou a vice-ministra Katarzyna Kacperczyk.