Sul Global mantém distância de investimentos na Rússia após início da guerra, aponta relatório

Queda no fluxo de capitais de países como China e Índia expõe dificuldades de Moscou para atrair novos parceiros

O esperado avanço dos investimentos do Sul Global na Rússia não se concretizou desde o início da guerra da Ucrânia. Segundo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o país registrou em 2024 o menor volume de investimento estrangeiro direto (IED) desde 2001, totalizando US$ 3,35 bilhões. As informações são do jornal The Moscow Times.

O governo de Vladimir Putin esperava que parceiros estratégicos da Ásia, África e América Latina preenchessem o vácuo deixado pela saída das empresas ocidentais. No entanto, o isolamento econômico ficou evidente em eventos como o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que neste ano teve apenas um chefe de Estado estrangeiro presente: o presidente da Indonésia. Nem mesmo alguns empresários russos participaram.

Notas de yuan (Foto: Eric Prouzet/Unsplash)

A retração é visível também no estoque de IED — o capital estrangeiro acumulado na economia russa —, que caiu 57% entre 2022 e 2024, somando US$ 216 bilhões. Para efeito de comparação, em 2021, a União Europeia (UE) detinha 255 bilhões de euros investidos no país, enquanto os Estados Unidos tinham entre US$ 12,3 bilhões e US$ 39,1 bilhões.

Nem mesmo os principais parceiros da Rússia no Sul Global ampliaram sua presença. Um estudo do Instituto do Banco da Finlândia indica que o IED da China no mercado russo caiu de cerca de 1% (2015 a 2020) para 0,3% (2021 a 2023). Atualmente, o total de investimentos chineses no país está em torno de US$ 8,9 bilhões. A Índia, outro aliado estratégico, mantém um estoque de aproximadamente US$ 16 bilhões.

“A guerra e as sanções resultantes são um grande obstáculo ao fluxo de IED para a Rússia, assim como a resposta do Kremlin, com nacionalizações generalizadas e confisco de ativos”, afirmou Maximilian Hess, fundador da Enmetena Advisory.

As dificuldades incluem ainda as restrições financeiras impostas por sanções internacionais. Em 2024, o vice-ministro das Finanças da Rússia, Ivan Chebeskov, admitiu que as negociações com a China para emissão de títulos em yuan estão travadas. “As conversas chegaram a um impasse devido a desacordos com os reguladores chineses”, declarou. A alternativa oferecida por Beijing seria a emissão de títulos panda, sujeitos a rígidos controles de capital.

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