Relatório da inteligência dos EUA contradiz Trump e aponta que programa nuclear do Irã não foi destruído

Dossiê indica que parte do urânio e as centrífugas iranianas sobreviveram aos bombardeios norte-americanos e israelenses

Apesar das declarações enfáticas do presidente Donald Trump de que os ataques aéreos dos EUA destruíram por completo as instalações nucleares do Irã, um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês) divulgado na segunda-feira (23 afirma o contrário. Segundo fontes com acesso à avaliação preliminar, citadas pela agência Associated Press (AP), o programa nuclear iraniano sofreu danos relevantes, mas foi apenas parcialmente afetado e pode ser reconstituído.

O relatório afirma que as instalações de Fordo, Natanz e Isfahan — alvos dos bombardeios de domingo (22) — continuam operacionais em alguma medida. Embora a entrada da planta subterrânea de Fordo tenha colapsado com o impacto de bombas de 13,6 toneladas lançadas por aviões B-2, a estrutura interna do complexo resistiu. Os dados apontam ainda que parte do estoque iraniano de urânio altamente enriquecido foi retirado dos locais antes dos ataques e permanece intacto.

A reação da Casa Branca foi imediata. “A divulgação dessa suposta avaliação é uma tentativa clara de menosprezar o presidente Trump e desacreditar os bravos pilotos que executaram perfeitamente a missão”, declarou a secretária de imprensa Karoline Leavitt. “Todo mundo sabe o que acontece quando se lançam 14 bombas de 13,6 toneladas em seus alvos: destruição total.”

Bombardeiro B2 Spirit dos EUA (Foto: boudewijnhuijgens/getarchive.net)

De acordo com o ex-enviado especial Steve Witkoff, que também teve acesso a relatórios de avaliação de danos, os ataques eliminaram a capacidade do Irã de desenvolver uma arma nuclear. “É traição, deveria ser investigado”, afirmou ele à rede Fox News. No entanto, analistas independentes alertam que o Irã pode ter transferido não apenas urânio, mas também centrífugas essenciais, embora mais difíceis de transportar sem danos.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, chegou a informar o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, que o país tomaria “medidas especiais para proteger nossos equipamentos e materiais nucleares”.

Imagens de satélite da empresa Maxar Technologies capturaram a movimentação de caminhões e tratores em Fordo dias antes dos ataques, levantando a suspeita de que o país havia removido parte de seu estoque de urânio enriquecido, embora ainda abaixo do grau necessário para armamento.

A diretora de políticas de não proliferação da Associação de Controle de Armas, Kelsey Davenport, alertou que, caso as centrífugas tenham sido retiradas previamente, o Irã poderia montar uma instalação secreta de enriquecimento e produzir material em nível bélico. Segundo ela, o país poderia, assim, “construir uma instalação de enriquecimento com pegada reduzida, injetar o gás enriquecido a 60% e rapidamente alcançar os níveis exigidos para armas”.

Para alguns especialistas, mesmo com material remanescente, os bombardeios comprometeram equipamentos e pessoal essenciais à construção de uma bomba. Outros, entretanto, entendem que os ataques podem impulsionar o governo a acelerar seu programa de armas nucleares, aproximando ainda mais o Irã de construir sua primeira bomba de destruição em massa.

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