A recente crise política no Nepal está provocando um movimento inesperado de migrantes que retornam da Índia. Em Lucknow, no norte da Índia, pontos de ônibus registram cenas de ansiedade e incerteza, com nepaleses correndo de volta para o país natal após tumultos e protestos que já deixaram 30 mortos. As informações são da BBC.
O primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou recentemente, depois de confrontos desencadeados por uma proibição das redes sociais de mais de 20 plataformas digitais. Apesar da revogação da proibição, os protestos liderados principalmente pela Geração Z continuaram. Há também indignação crescente contra os filhos de autoridades, apelidados de “Nepo Kids”, que exibem estilos de vida luxuosos nas redes sociais.
Atualmente, o Nepal está sem governo, com toque de recolher nacional e patrulhamento militar nas ruas, enquanto parlamentares e residências de políticos foram incendiados.

Para migrantes como Saroj Nevarbani, a decisão de voltar é difícil, mas necessária. Outros, como Pesal e Lakshman Bhatt, compartilham a mesma incerteza: “Não sabemos de nada, mas as pessoas em casa nos pediram para voltar”.
Quem são os nepaleses na Índia?
Os nepaleses que vivem na Índia se dividem em três grandes grupos. Há os trabalhadores migrantes sazonais, que deixam suas famílias no Nepal e cruzam a fronteira em busca de empregos simples e mal remunerados – cozinheiros, empregados domésticos, seguranças – quase sempre sem documentos indianos e com acesso limitado a serviços básicos.
Outro grupo é formado pelos migrantes que se instalam com suas famílias; alguns chegam a obter carteira de identidade indiana, mas mantêm fortes vínculos afetivos e sociais com o Nepal. Por fim, existem os cidadãos indianos de etnia nepalesa, descendentes das ondas migratórias que ocorreram entre os séculos 18 e 20. Eles têm raízes firmes na Índia, mas preservam, em sua cultura e identidade, uma ligação permanente com a terra de origem de seus antepassados.
O país também lidera o número de estudantes estrangeiros na Índia, com mais de 13 mil registrados nos últimos dados oficiais, além de centenas de nepaleses que cruzam a fronteira aberta para visitar familiares ou buscar suprimentos, facilitados pelo tratado de paz de 1950.
O impacto econômico
O Nepal depende fortemente das remessas enviadas por seus cidadãos no exterior. Em 2024, elas representavam entre 27% e 30% do PIB, beneficiando mais de 70% das famílias e correspondendo a cerca de um terço da renda familiar. Grande parte vem do Golfo e da Malásia, enquanto a Índia contribui com cerca de 20%.
Apesar dessa importância econômica, os migrantes nepaleses frequentemente enfrentam condições precárias na Índia: moram em quartos compartilhados com higiene limitada, sofrem discriminação, e têm acesso restrito a saúde e educação.
Participação política e social
Migrantes nepaleses na Índia ainda desempenham algum papel político, apoiando partidos e líderes do país de origem, mas sua influência diminuiu nas últimas décadas. Em contrapartida, estudantes nepaleses na Índia mostram-se mais engajados e esperançosos quanto ao futuro político do país.
Perspectiva futura
Analistas afirmam que cada crise em Katmandu impulsiona o fluxo de jovens para o mercado informal indiano, que oferece empregos precários e pouco protegidos. Caso a instabilidade persista, a tendência é que mais nepaleses busquem trabalho fora do país, aumentando a pressão sobre o já sobrecarregado mercado de trabalho informal na Índia.