Conflitos e contrabando marcam corrida por minerais estratégicos na África

Minerais críticos, como coltan, tântalo, estanho e tungstênio, movimentam bilhões, mas geram instabilidade política e deslocamentos populacionais no continente africano

A corrida global por minerais estratégicos, como coltan, tântalo, estanho e tungstênio, fundamentais para a produção de celulares, computadores e tecnologias limpas, tem transformado a África em palco de disputas econômicas e políticas. Enquanto países como a República Democrática do Congo (RDC) enfrentam conflitos armados e contrabando ligados à mineração, outras nações, como a Costa do Marfim, tentam se consolidar como alternativas estáveis em meio à instabilidade do continente. As informações são da Deutsche Welle (DW).

Cada vez mais valorizados por sua aplicação em infraestrutura ambiental e tecnologias emergentes, esses minerais são extraídos em 31 dos 54 países africanos. África do Sul, Nigéria e Marrocos possuem a maior diversidade, enquanto a Guiné lidera em volume de toneladas métricas extraídas.

O interesse global em minerais críticos representa oportunidade de crescimento econômico para diversos países. Porém, a falta de padrões trabalhistas e ambientais unificados e a baixa cooperação regional tornam a exploração uma fonte de incertezas.

Mineração artesanal de cobalto na RDC (Foto: IIED/Flickr)
Coltan: riqueza e conflito na RDC

Na RDC, disputas pelo coltan, mineral do qual se extrai o tântalo, usado em eletrônicos, dispositivos médicos e tecnologia aeroespacial, alimentam três décadas de instabilidade no leste do país.

Em abril de 2024, rebeldes da Aliança do Rio Congo (AFC), ligados ao grupo paramilitar M23 e apoiados por Ruanda, tomaram o controle da mina de Rubaya, responsável por até 30% do coltan mundial. Desde então, pelo menos 150 toneladas métricas de coltan são contrabandeadas mensalmente para Ruanda, segundo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas).

O contrabando ameaça programas de rastreabilidade, como a Iniciativa Internacional da Cadeia de Suprimentos de Estanho (ITSCI), que busca garantir produção livre de trabalho infantil e financiamento de grupos armados.

A ONU alerta que essa prática já representa “a maior contaminação das cadeias de fornecimento de minerais na região dos Grandes Lagos”.

Investidores fogem do Sahel e apostam na Costa do Marfim

Enquanto países do Sahel (Mali, Burkina Faso e Níger) enfrentam golpes militares e insegurança, a Costa do Marfim surge como refúgio para mineradoras.

Em 2023, o país produziu mais de 50 toneladas métricas de ouro e planeja dobrar essa marca até 2030, superando vizinhos cuja produção estagnou após crises políticas.

Além do ouro, novas frentes de exploração de coltan, manganês e bauxita estão em andamento, com projetos de empresas britânicas, chinesas e marfinenses.

Crescimento em outros países africanos

Fora da África Ocidental, países como Uganda, Tanzânia e Nigéria ampliam a extração de minerais como feldspato, cobre e manganês.

Para a Nigéria, fortemente dependente do petróleo, os minerais essenciais são vistos como um trunfo estratégico para a transição energética.

Deslocamento de comunidades

A mineração também impacta populações locais. Em Kolwezi (RDC), a joint venture COMMUS, formada pela chinesa Zijin Mining e a estatal Gecamines, iniciou a construção de um novo distrito para reassentar moradores.

No entanto, o processo sofre atrasos: quase uma década depois, milhares de famílias ainda aguardam realocação. Em 2017, o distrito abrigava 39 mil pessoas; hoje, restam apenas 2 mil, segundo o Pulitzer Center.

“As explosões da mina fazem tremer nossas paredes”, relata Sylvain Ilunga Muleka, líder comunitário. “É muito arriscado. Precisamos acelerar o processo de realocação.”

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