Menina de dois anos vira deusa viva no Nepal

Tradição milenar nepalesa escolhe uma nova “deusa virgem” entre meninas do clã Shakya, em meio a critérios rígidos e rituais de devoção

Neste mês, a pequena Aryatara Shakya, de 2 anos e 8 meses, foi carregada de sua casa em Katmandu, capital do Nepal, até o Kumari Ghar, palácio-templo onde viverá pelos próximos anos. O anúncio ocorreu durante o Dashain, maior festival hindu do país, que celebra a vitória do bem sobre o mal. As informações são da Associated Press.

Devotos se reuniram para prestar reverência, tocando os pés da menina com a testa e oferecendo flores e dinheiro. Aryatara dará bênçãos aos fiéis, incluindo autoridades nacionais.

Um retrato de uma menina vestida como a Deusa Viva Kumari durante o Kumari Puja (Foto: WikiCommons)

Para ser escolhida como Kumari, a menina precisa ter entre 2 e 4 anos e cumprir uma série de requisitos rigorosos. A tradição exige que ela apresente pele, olhos, cabelos e dentes impecáveis, sem qualquer cicatriz ou marca visível. Além disso, deve mostrar coragem desde cedo, sem demonstrar medo, nem mesmo da escuridão.

A seleção é feita exclusivamente entre meninas do clã Shakya, pertencente à comunidade Newar, considerada guardiã dessa tradição centenária.

Vida isolada

Apesar do prestígio, as Kumaris vivem em relativo isolamento. Elas têm poucos amigos e só podem sair em festividades. Muitas enfrentam dificuldades após deixarem o posto, como adaptação escolar e vida social.

Existe ainda uma crença popular que desestimula casamentos: homens que se unem a uma ex-Kumari morreriam jovens. Por isso, muitas permanecem solteiras.

Nos últimos anos, porém, a tradição passou por mudanças. Hoje, a Kumari pode ter aulas particulares dentro do palácio e até assistir televisão. Além disso, o governo oferece uma pensão de cerca de US$ 110 (cerca de R$ 585 mil) mensais às ex-Kumaris.

Cultura e espiritualidade

A tradição da Kumari é um dos maiores símbolos culturais do Nepal, atraindo turistas e estudiosos de todo o mundo. Ela representa a união entre budismo e hinduísmo em um dos países mais religiosos do planeta.

A Kumari, também conhecida como “deusa virgem”, é uma tradição secular do Nepal, em que uma menina da comunidade Newar é escolhida para representar a divindade viva. Reverenciada por hindus e budistas, a Kumari permanece no cargo até a puberdade, quando é substituída.

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