Pokrovsk cercada e em chamas: a batalha mais difícil da Ucrânia

Mais de 200 ataques em três dias marcam nova escalada da guerra no Donbass. Soldados relatam falta de suprimentos e batalhas corpo a corpo nas ruas

A guerra no leste da Ucrânia entrou em um novo ponto de tensão. A cidade industrial de Pokrovsk, na região de Donetsk, está cercada por forças russas após semanas de intensos combates, segundo relatos de militares ucranianos e analistas internacionais. A ofensiva marca mais um capítulo da lenta, porém constante, tentativa de Moscou de avançar no Donbass. As informações são do The Moscow Times.

Com cerca de 60 mil habitantes antes da guerra, Pokrovsk vem resistindo há mais de um ano e meio a bombardeios contínuos. Agora, a batalha chegou a uma fase decisiva, e especialistas descrevem a situação como uma “guerra de desgaste”. Tropas russas avançaram pelos arredores ao sul da cidade, aproveitando a piora do clima e o enfraquecimento das defesas ucranianas.

“O principal problema é a logística”, relatou Artem, operador de drones ucraniano que atua na linha de frente. “As estradas estão congestionadas por drones russos. Nenhum veículo consegue entrar ou sair da cidade sem ser detectado”.

Pokrovsk em registro de janeiro de 2025 (Foto: WikiCommons)

Apesar das dificuldades, as brigadas 25ª, 7ª e 68ª da Ucrânia ainda controlam partes de Pokrovsk e da vizinha Myrnohrad, a cerca de sete quilômetros de distância. Segundo o analista Michael Kofman, do Carnegie Endowment for International Peace, o 7º Corpo de Resposta Rápida ucraniano enfrenta limitações severas de pessoal e equipamento. “Os comandantes são forçados a mover recursos escassos de uma posição ameaçada para outra”, explicou.

O presidente Volodymyr Zelensky reconheceu que Pokrovsk é o principal alvo da Rússia neste momento. “O objetivo número um dos militares russos é ocupar a cidade o mais rápido possível”, afirmou. Ele citou dados que indicam 220 ataques em apenas três dias.

Em Moscou, Vladimir Putin declarou que Pokrovsk já está cercada, informação negada pelo alto comando ucraniano. O general Oleksandr Syrskyi afirmou que não há cerco total, mas admitiu que as tropas enfrentam intensa pressão para manter as rotas de abastecimento abertas.

A situação lembra os episódios anteriores de Bakhmut e Avdiivka, cidades que se tornaram símbolos da resistência ucraniana antes de caírem em 2023 e 2024. Analistas alertam que a batalha por Pokrovsk pode seguir o mesmo destino.

O jornalista francês Sébastien Gobert, autor de um livro sobre oligarcas ucranianos, acredita que “Pokrovsk provavelmente está perdida” e que Kiev deve começar a se preparar para o próximo grande ataque.

“A cidade ainda não caiu, mas já devemos tirar lições desta batalha. Principalmente sobre a capacidade da Ucrânia de resistir em futuras ofensivas”.

Segundo Gobert, problemas estruturais de mobilização, recrutamento e treinamento continuam sem solução desde 2022, enquanto Moscou recruta milhares de novos soldados todos os meses.

Mesmo que Pokrovsk caia, especialistas afirmam que isso não significará o colapso imediato da frente oriental, mas colocará à prova a confiança entre o governo ucraniano, suas forças armadas e a população.

“Quando Pokrovsk cair, a frente não ruirá por si só”, conclui Gobert, “mas será um novo teste para a resistência e a perseverança da Ucrânia.”

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