A Anistia Internacional (AI) declarou que Israel “continua cometendo genocídio em Gaza”, mesmo após o cessar-fogo firmado no mês passado. Em novo relatório divulgado nesta quinta-feira (27), a organização afirma que a trégua corre o risco de “criar uma ilusão perigosa” de que a vida no território estaria voltando ao normal.
O cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos entre Israel e o Hamas entrou em vigor em 10 de outubro, após dois anos de conflito. Apesar da redução na intensidade dos bombardeios, a secretária-geral da AI, Agnès Callamard, destacou que as restrições impostas pelo Estado judeu seguem colocando a população palestina em risco.

“Embora as autoridades israelenses tenham reduzido seus ataques e permitido a entrada limitada de ajuda humanitária, o mundo não deve se deixar enganar. O genocídio cometido por Israel não terminou”, afirmou Callamard.
Procurado pela agência AFP, o Ministério das Relações Exteriores de Israel não respondeu às acusações mais recentes. Em ocasiões anteriores, a pasta negou veementemente alegações semelhantes, classificando-as como “falsas” e “fabricadas”.
A Anistia reforça que, de acordo com a Convenção da ONU sobre o Genocídio de 1948, Israel comete ao menos três dos cinco atos que configuram genocídio, incluindo a imposição deliberada de condições de vida que ameaçam a existência física do grupo.
No relatório atualizado, a organização denuncia que Israel “continua a restringir severamente a entrada de suprimentos e o restabelecimento de serviços essenciais” em Gaza. Apesar de alguns avanços pontuais, não há sinais de mudança estrutural nas condições de vida da população palestina.
A devastação em Gaza permanece evidente após a guerra desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023. Desde então, segundo o Ministério da Saúde do território, mais de 69 mil palestinos foram mortos, dados considerados confiáveis pela ONU. Mesmo após o início do cessar-fogo, 352 palestinos foram mortos por disparos israelenses, segundo autoridades locais.
A comissão internacional independente criada pela ONU concluiu, em setembro de 2025, que “está ocorrendo genocídio em Gaza”, afirmando que Israel cometeu quatro dos cinco atos descritos na Convenção de 1948. Israel rejeitou a conclusão.
Hospitais continuam sem suprimentos, e grande parte da infraestrutura civil permanece destruída. Para Callamard, a negação de ajuda humanitária essencial, em meio a feridos, pessoas desnutridas e risco de doenças graves, reforça o caráter sistemático das ações israelenses.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) também já ordenou que Israel previna e puna a incitação direta e pública ao genocídio.