Putin usa cidade ucraniana como palco político e pressiona por acordo na guerra, às vésperas de reunião com enviados de Trump

Visita militar do chefe do Kremlin a Pokrovsk, apresentada como vitória russa, mira influenciar aliados ocidentais e negociações sobre o futuro da guerra

A visita surpresa de Vladimir Putin a um posto de comando no leste da Ucrânia, divulgada pelo Kremlin na segunda-feira (1º), reforçou uma mensagem calculada: a Rússia quer mostrar ao mundo que está avançando no campo de batalha e que a vitória é inevitável. O gesto ocorreu horas antes do encontro do presidente russo com enviados do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que buscam um caminho para encerrar a guerra. As informações são da CNN.

Putin apareceu em Pokrovsk, cidade reivindicada por Moscou como recém-capturada, vestido com uniforme camuflado e rodeado por seus principais comandantes militares. Moscou afirma ter tomado o controle total da cidade, no leste ucraniano, mas Kiev contesta a versão e diz que os combates continuam. Para o governo ucraniano, as declarações do Kremlin “não correspondem à realidade”.

Putin durante reunião em um posto de comando do grupo de forças de Kursk, em março de 2025 (Foto: WikiCommons)

A encenação em torno da visita reforça um padrão. O Kremlin tem usado aparições militares de Putin para enviar recados estratégicos. Diferentemente de Volodymyr Zelensky, que visita frequentemente a linha de frente, Putin faz poucas aparições, sempre cuidadosamente coreografadas e divulgadas em momentos politicamente sensíveis.

Pokrovsk já foi um ponto crucial de abastecimento ucraniano, mas perdeu valor estratégico após meses de combate intenso. Ainda assim, se confirmada, a captura representaria a maior vitória russa desde 2023. Um vídeo divulgado por Moscou mostra soldados hasteando a bandeira russa no centro da cidade, embora essa área estivesse sob controle russo há mais tempo.

Soldados ucranianos que ainda lutam na região disseram à CNN que Moscou não controla completamente Pokrovsk. Um comandante afirma que suas tropas mantêm posições na área urbana, enquanto outro reconhece que os russos dominam grande parte da cidade. A Rússia, por sua vez, usa a narrativa para projetar força antes de negociações de alto nível.

A reunião de Putin com Steve Witkoff, enviado especial de Trump, e Jared Kushner marca a continuidade de esforços diplomáticos dos EUA para frear o conflito. Putin mantém exigências rígidas: que a Ucrânia reduza seu Exército, ceda territórios ocupados e renuncie à entrada na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Kiev rejeita qualquer proposta que viole sua soberania.

Especialistas afirmam que a narrativa de vitória russa tem um alvo claro: desgastar a disposição dos aliados ocidentais de manter apoio militar e financeiro à Ucrânia. George Barros, do think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), afirma que o Kremlin tenta convencer o mundo de que resistir é inútil. Segundo o analista, a estratégia busca provocar a pergunta que mais preocupa Kiev: por que continuar apoiando a Ucrânia se a derrota parece inevitável?

Relatórios recentes mostram que, apesar dos avanços russos, uma vitória total está longe de ser garantida. A possibilidade de Moscou conquistar rapidamente o restante de Donetsk é vista como improvável. Isso torna a pressão política tão importante quanto a militar nos esforços russos.

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