O general líbio renegado Khalifa Haftar declarou nesta segunda (27) que o acordo negociado pelas Nações Unidas para unir o país é “coisa do passado”. As informações são da Al Jazeera.
Haftar pediu que as autoridades avancem com a criação de um novo governo. “O acordo político destruiu o país. Nós vamos trabalhar para criar condições para a construção de instituições civis permanentes”, afirmou, em um discurso televisionado.
O anúncio acontece duas semanas após o Governo do Acordo Nacional, respaldado pela ONU, expulsar as tropas de Haftar de várias cidades importantes no oeste do país.
No entanto, nos últimos dias, ataques das forças do general se intensificaram na capital do país, Trípoli. O Exército Nacional Líbio tem apoio dos Emirados Árabes Unidos, Egito e Rússia.
Reação
A declaração do general foi vista como preocupante, já que pode levar o país, mergulhado em conflito desde a derrubada de Muammar Gaddafi em 2011, a um novo embate.
O governo líbio reconhecido pela ONU fala em sublevação por parte de Haftar. “O que o criminoso de guerra Haftar disse é um golpe no caminho pela democracia”, afirmou o governo em comunicado nesta terça (28).
Um apelo aos líbios foi feito para que seja adotado um diálogo para alcançar uma solução abrangente e permanente por meio das urnas.
Já a União Europeia afirmou, por meio do porta-voz para assuntos internacionais, que uma tentativa de solucionar um problema de maneira unilateral, principalmente com o uso da força, nunca trará uma solução sustentável ao país.
Os Estados Unidos também se mostrou contra a declaração do general e pediu que os dois rivais unam forças para cessar os ataques. Já o governo russo, que apoia o Exército Nacional Líbio, condena a recusa do Governo do Acordo Nacional em se envolver com Haftar.
O acordo
Em 2015, as Nações Unidas criou um governo após o surgimento de dois centros rivais de poder na Líbia. O acordo confere legitimidade ao Governo do Acordo Nacional, respaldado pela ONU e liderado pelo primeiro-ministro Fayez al-Sarraj.
A Câmara dos Deputados passou a ter sede em Tobruk (a 1.200 quilômetros da capital), concedendo poderes consultivos ao parlamento, em Trípoli. No entanto, a medida é alvo frequente de críticas por parte de Khalifa Haftar e seus apoiadores.
A ONU vem apontando suas preocupações em relação aos conflitos que crescem no país. A chefe de missão de apoio da ONU na Líbia, Stephanie Turco Williams, espera que com o início do Ramadã, no último dia 23, as partes envolvidas no conflito façam uma trégua.
O cenário é visto como ainda mais preocupante diante da pandemia do novo coronavírus. Até esta quarta (29), de acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), o país registrava 61 casos confirmados e 2 mortes por causa da doença.