Há 38 anos, em 6 de novembro de 1982, Paul Biya tornou-se presidente de Camarões, na África Ocidental. Não deixou mais o cargo e se tornou o segundo ditador mais longevo do continente, atrás apenas de Teodoro Obiang, há 41 anos no poder na vizinha Guiné Equatorial.
Já são sete mandatos, de sete anos cada. Há exatos dois anos, Biya foi empossado para seu mais recente período na cadeira presidencial camaronesa. Com fim previsto para 2025, o ditador terminará seu sétimo mandato aos 92 anos.
Neste ano, o aniversário “duplo” será comemorado com discrição em Yaoundé, capital camaronesa.
Um motivo é o avanço do novo coronavírus, mas o principal deles é que Biya não vive seu período de maior popularidade. Há crise econômica, aumento da pobreza e insurgência de movimentos separatistas anglófonos, em um país onde a maioria fala francês.
Em 2018, Biya ganhou um oponente à altura. Após décadas como aliado, o professor Maurice Kamto tenta chegar à Presidência por meio de seu Movimento de Renascimento de Camarões. Kamto afirma que a eleição foi roubada e já incentivou protestos contra o atual ocupante do cargo.
No mais recente deles, em 22 de setembro, o governo reagiu com violência e processou as lideranças por “tentativa de desestabilização”. Kamto havia sido posto em prisão domiciliar no dia anterior.
Nos próximos anos, Biya também terá de lidar com os crescentes movimentos separatistas da população anglófona, no oeste do país, que vive próxima à fronteira com a Nigéria.
Em 2017, os separatistas que falam inglês chegaram a declarar a independência da região, batizada de Ambazônia. A insurreição começou com pedidos para que o país se tornasse uma federação, já que os anglófonos afirmavam haver negligência sistemática por parte do governo.
A insatisfação gerou o chamado Movimento dos Dez Milhões do Norte, minando o apoio que restava a Biya na região.
O conflito escalou e, desde então, matou três mil pessoas, tirou 800 mil crianças da escola e forçou 900 mil a deixarem suas casas, segundo dados deste ano da ONU (Organização das Nações Unidas).
Na fronteira com a Nigéria, Biya também terá de lidar com a cada vez maior presença de insurgentes extremistas do Boko Haram. Os jihadistas operam, em sua maioria, no extremo norte do país. Ali, causaram o deslocamento de 350 mil camaroneses.
Ao contrário do que levou Biya ao poder em 1982, quando prometeu investimentos e a “renovação” do Estado em uma espécie de “New Deal”, o octagenário presidente poderá deixar um novo rastro de ruptura ou nova ditadura, aprovada pelas estruturas de poder forjadas nesses quase 40 anos.