Ataque a famílias deslocadas mata ao menos 100 crianças em Tigré, diz Unicef

Vítimas estavam em um centro de saúde e uma escola, fugindo do conflito entre rebeldes e forças de segurança

O confronto entre rebeldes e forças do governo na região de Tigré, na Etiópia, chega ao nono mês. Nesta terça-feira (10), o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) manifestou preocupação com a escalada de violência e denunciou o assassinato de mais de 200 pessoas, sendo ao menos 100 crianças, na última quinta-feira (5), em ataques a famílias deslocadas abrigadas em um centro de saúde e uma escola na província de Afar.

“A intensificação dos combates em Afar e outras áreas vizinhas a Tigré é desastrosa para as crianças. Isso se segue a meses de um conflito armado em que colocou cerca de 400 mil pessoas, incluindo pelo menos 160 mil crianças, em condições de fome ”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do Unicef.

Cerca de quatro milhões de pessoas estão níveis de emergência de insegurança alimentar em Tigré e nas regiões vizinhas de Afar e Amhara. Os recentes combates deslocaram mais 100 mil pessoas, adicionando-se assim aos dois milhões que já abandonaram as suas casas.

Refugiados de Tigré, Etiópia, aguardam em centro junto à fronteira com o Sudão (Foto: Acnur/Will Swanson)

O órgão estima ainda que o número de crianças em Tigré que sofrem de desnutrição com risco de vida aumentará 10 vezes nos próximos 12 meses. “A catástrofe humanitária que se espalha pelo norte da Etiópia está sendo impulsionada por um conflito armado e só pode ser resolvida pelas partes em conflito”, disse Fore.

Combate à fome

Apesar dos inúmeros desafios, o PMA (Programa Mundial de Alimentos) distribuiu alimentos para mais de 100 milhões de pessoas no noroeste e partes do sul de Tigré durante junho e julho.

No entanto, o programa alcançou apenas metade das pessoas que planejava ajudar, incluindo comunidades à beira da fome, devido à grave escassez de alimentos, dinheiro, combustível e equipamentos de telecomunicações em funcionamento.

O PMA informou que mais de 175 caminhões chegaram à região de Tigré durante a primeira semana deste mês, incluindo 90 transportando ajuda alimentar. A previsão é que mais 90 caminhões cheguem nos próximos dias.

No entanto, com 5,2 milhões de pessoas necessitando de assistência alimentar, o que representa cerca de 90%, o PMA e seus parceiros estima que são necessários ao menos 100 caminhões diários para conter o problema.

Avanço rebelde

Tigré está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. De um lado está a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político local amparado por um grupo paramilitar. Do outro, as forças etíopes, amparadas pelo exército da vizinha Eritreia.

As forças nacionais chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota dos militares, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da Eitreia, que apoia Addis Abeba, também deixaram de ser vistos por lá. Agora, com o avanço dos rebeldes rumo a Afar, o exército tem sido enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Em meio à disputa entre rebeldes e governo, a região enfrenta uma campanha que gera fome e violência e já deteriorou as condições de vida de cinco milhões de civis.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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