Ataques jihadistas matam nove civis e três militares em Burkina Faso

Civis eram membros da milícia Voluntários de Defesa da Pátria, que atua em parceira com as forças armadas no combate aos insurgentes

Ao menos três soldados do exército de Burkina Faso e nove civis que os auxiliavam morreram na quinta-feira (4) em ataques de jihadistas no norte de Burkina Faso. As informações são do site The Defense Post.

Os civis eram membros da milícia VDP (Voluntários de defesa da Pátria), que atua em parceira com as forças armadas no combate aos insurgentes no país. O grupo afirmou em nota, nesta sexta (5), que os agressores realizaram dois ataques diferentes no distrito de Bourzanga.

A VDP é formada por cidadãos que recebem um treinamento de duas semanas para atuar ao lado dos soldados. As funções deles geralmente estão associadas a vigilância, coleta de informações e escolta de autoridades.

Na última quarta (3), as forças armadas do país informaram que civis foram acidentalmente mortos durante uma operação de combate ao terrorismo no sudeste do país.

Os militares não informaram o número de mortos, nem entre os terroristas, nem entre os civis. Disseram apenas que os cidadãos foram atingidos acidentalmente durante um confronto entre as tropas e os extremistas em uma área próxima à fronteira com o Togo.

Soldados de Burkina Faso em simulação de ataque terrorista na capital Uagadugu (Foto: U.S. Army)
Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de facções da Al-Qaeda e do Estado Islâmico (EI), insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas francesas e internacionais.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país. O pior ataque jihadista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou nos últimos meses, após a tomada do poder no país por uma junta militar, em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que vinha enfrentando protestos pela forma como lidou com a sangrenta insurgência jihadista.

Para especialistas, os recentes ataques sugerem que os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país após a tomada do poder. “Os novos ataques sinalizam uma onda crescente de militância no norte de Burkina Faso e levantam preocupações sobre o alcance crescente de grupos terroristas que, sem dúvida, estão dificultando ainda mais o trabalho da junta de proteger o país”, disse Laith Alkhouri, CEO da Intelonyx Intelligence Advisory, uma empresa que realiza análises no setor de inteligência.

Os ataques de grupos extremistas geraram uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugirem de suas casas, com cerca de duas mil mortes ligadas ao conflito. Estima-se que quase 5 milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar, com quase 3 milhões em situação de insegurança alimentar aguda.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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