Ataques ocorridos em três aldeias no norte de Burkina Faso deixaram ao menos 170 pessoas mortas na semana passada, com indícios de execuções sumárias conduzidas pelos agressores, de acordo com o site The Defense Post. A revelação foi feita somente no domingo (3) pelo procurador regional Aly Benjamin Coulibaly.
A autoridade disse que o massacre, que atualmente estaria sendo investigado por seu gabinete, ocorreu no mesmo dia, 25 de fevereiro, em que supostos extremistas islâmicos atacaram uma igreja católica e uma mesquita muçulmana no norte e no leste do país, com “dezenas” de vítimas registradas.
Embora não descarte a possibilidade de que a ação nas aldeias tenha sido igualmente conduzida por jihadistas, o governo diz que não existe relação direta entre esses ataques e os outros dois que ocorreram contra os templos. Por ora, não há informação precisa sobre quem teriam sido os autores em ambos os casos.
Testemunhos de sobreviventes do massacre nas três aldeias indicam que mulheres e crianças estão entre as vítimas. O procurador, por sua vez, acrescentou que também há pessoas feridas e que houve danos materiais, mas não deu maiores detalhes.
Segundo o governo, uma grande operação de resposta foi lançada após os ataques, tendo “neutralizado várias centenas de terroristas”. Para tanto, as Forças Armadas contaram com o apoio de uma milícia civil armada aliada aos militares, chamada Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP).
Mahamadou Sana, ministro da Segurança burquinense, diz que grupos extremistas passaram a realizar ações “coordenadas” contra civis e as forças do governo em resposta às bem sucedidas operações militares recentes.
“Esta mudança na abordagem táctica do inimigo se deve ao fato de bases terroristas terem sido destruídas, bem como campos de treino, e de terem sido realizadas ações para esgotar a fonte de financiamento do inimigo, bem como os seus corredores de abastecimento”, afirmou Sana.
País em ebulição
Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos terroristas, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Facções armadas lançam ataques ao Exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.
Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com quase metade do território nacional fora do controle do governo central. Assim, Burkina Faso superou Mali e Níger como epicentro da violência jihadista na região.
Houve um período de relativa calmaria, até que a violência aumentou após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que enfrentava protestos pela forma como combatia a sangrenta insurgência jihadista. Em setembro daquele ano, um segundo golpe levou a nova mudança no poder, com o capitão Ibrahim Traoré assumindo o governo central.
A instabilidade faz crescer o problema da insurgência. Para especialistas, os extremistas aproveitam a divisão pública no país, situação que se tornou ainda mais delicada após a França acatar um pedido do governo central burquinense e retirar suas tropas da nação africana. Paris mantinha até 400 membros de suas forças especiais por lá, parte da Operação Barkhane de combate ao extremismo no Sahel.