Ataques contra católicos e muçulmanos deixam ‘dezenas’ de mortos em Burkina Faso

Um dos alvos foi uma missa católica onde 15 pessoas foram mortas, e o outro foi uma mesquita na qual os muçulmanos realizavam suas preces

Dois ataques diferentes, um norte e outro no leste de Burkina Faso, deixaram “dezenas” de pessoas mortas no domingo (25). Um dos alvos foi uma igreja católica, enquanto o outro foi uma mesquita onde muçulmanos realizam suas preces. Os casos ainda carecem de maiores esclarecimentos, mas autoridades locais atribuem as ações a extremistas islâmicos.

De acordo com a rede BBC, o ataque contra a igreja católica foi realizado durante a missa dominical e matou 12 pessoas em um primeiro momento. O chefe da diocese local, abade Jean-Pierre Sawadog, afirmou que outras três vítimas foram socorridas com vida, mas também morreram mais tarde. Há feridos.

“Nesta dolorosa circunstância, nós os convidamos a rezar por aqueles que morreram na fé, pela cura dos feridos e pela consolidação dos corações enlutados”, diz comunicado assinado por Sawadog.

Embora nenhuma organização extremista tenha assumido a autoria, as suspeitas recaem sobre grupos filiados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI) que atuam no país e em nações vizinhas, considerando que o ataque ocorreu nas proximidades da fronteira com o Mali.

Um segundo ataque terrorista foi registrado no mesmo dia no leste do país, tendo como alvos desta vez um grupo de muçulmanos que também realizavam suas preces. O número de mortos não foi informado como precisão, mas as autoridades falam em “dezenas” de vítimas, segundo o jornal Times of India

Soldados de Burkina Faso em simulação de ataque terrorista em Uagadugu (Foto: U.S. Army/Divulgação)
País em ebulição

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos terroristas, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Facções armadas lançam ataques ao Exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com quase metade do território nacional fora do controle do governo central. Assim, Burkina Faso superou Mali e Níger como epicentro da violência jihadista na região.

pior ataque extremista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Houve um período de relativa calmaria, até que a violência aumentou após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que enfrentava protestos pela forma como combatia a sangrenta insurgência jihadista. Em setembro daquele ano, um segundo golpe levou a nova mudança no poder, com o capitão Ibrahim Traoré assumindo o governo central.

A instabilidade só faz crescer o problema da insurgência. Desde os golpes, um dos ataques mais violentos ocorreu em novembro de 2023, quando “dezenas de civis” foram mortos por insurgentes do Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), um grupo ligado à Al-Qaeda.

Na ocasião, os extremistas atacaram uma base militar, residências ocupadas por civis e três campos de deslocados internos na cidade de Djibo, no norte do país africano. Ao menos 40 civis foram mortos, com outros 42 feridos, de acordo com o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). Também foram incendiados 20 estabelecimentos comerciais.

Para especialistas, os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país, situação que se tornou ainda mais delicada após a França acatar um pedido do governo central burquinense e retirar suas tropas da nação africana. Paris mantinha até 400 membros de suas forças especiais por lá, parte da Operação Barkhane de combate ao extremismo no Sahel.

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