Cobertura de vacinação contra Covid-19 estanca na África e pode adiar o fim da pandemia

OMS alerta que falta de proteção pode criar lacuna perigosa, pois vírus tende a explorar a situação para retornar com força

A cobertura vacinal da Covid-19 estagnou em metade dos 54 países africanos. A porcentagem de pessoas imunizadas na primeira fase quase não se alterou nos últimos dois meses, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Entre julho e setembro, o número de doses administradas por mês diminuiu mais de 50%. Já a meta global de proteção de 70% da população, estabelecida para o final do ano, somente poderá ser alcançada em abril de 2025.

Entre os fatores associados aos atrasos estão o acesso difícil às doses, uma situação que prejudicou os esforços de imunização ainda em 2021. O mecanismo Covax ajudou a resolver o desafio.

No entanto, a eficácia caiu nos últimos meses. O número de pessoas vacinadas baixou de forma significativa, enquanto os custos operacionais por pessoa continuam aumentando. A situação é atribuída a problemas no planejamento e preparação, especialmente nos níveis subnacionais.

Primeira inoculação da vacina contra Covid-19 em Eswatini (Foto: UN Eswatini/Muziwakhe Dlamini)

Progressos modestos aconteceram em grupos populacionais de alto risco, particularmente na vacinação dos idosos. Entretanto, a África registra o menor número de casos desde o início da pandemia nas últimas 12 semanas. Em nenhum país da região a doença ressurge ou foi declarado alerta máximo. As mortes estão a uma taxa de 2,1%.

No balanço, a OMS ressalta que o número de doses fornecidas em setembro está um terço abaixo do pico das 63 milhões alcançadas em fevereiro deste ano. A situação vem melhorando neste mês, com o 22 milhões de unidades administradas, 95% do total do mês anterior. Estima-se que 24% da população do continente tenha completado a etapa inicial, comparada à cobertura global de 64%.

Pandemia perto do fim

A diretora regional da OMS para a região africana, Matshidiso Moeti, ressaltou que “o fim da pandemia de Covid-19 está à vista. Mas, enquanto a África estiver muito atrás do resto do mundo em alcançar proteção generalizada, há uma lacuna perigosa que o vírus pode explorar para voltar com força”.

Em relação ao momento atual, a maior prioridade é proteger as populações mais vulneráveis dos piores efeitos da Covid-19. Apesar de algum progresso à medida que os países intensificam os esforços para aumentar a cobertura entre profissionais de saúde, idosos e pessoas com sistema imunológico comprometido, segundo Moeti.

Para a chefe da OMS na África, o continente é agora vítima do “próprio sucesso”. Ela explica que, depois de ter recebido imunizantes que ajudaram a reduzir o número de infecções, “as pessoas não temem mais a Covid-19 e tampouco estão dispostas a se vacinar”. Assim, ela defende que campanhas de vacinação em massa são essenciais para aumentar a cobertura.

As iniciativas contribuíam para conseguir 85% do total de doses administradas na região africana. Moeti ressaltou ainda que a rapidez e a eficácia destas estratégias podem ser alcançadas com um bom planejamento.

A OMS na África declarou que a hesitação em se vacinar e uma percepção de baixo risco da pandemia, principalmente com o recente declínio nos casos, são fatores que ajudam a diminuir a aceitação.

Até 16 de outubro, o continente confirmou 4.281 novos casos da Covid-19, equivalente a 1,3% do pico do surto alcançado em dezembro passado. Cerca de 40% dos profissionais de saúde africanos concluíram a primeira fase de imunização.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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