Moradores de Derna, na costa leste da Líbia, têm uma preocupação adicional após a enchente que devastou a cidade na semana passada. As violentas correntezas podem ter deslocado minas terrestres, uma perigosa herança da guerra que ainda divide a nação africana. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).
Uma das prioridades dos líbios neste momento é obter água potável, pois as fontes habituais foram contaminadas durante a enchente provocada pela tempestade Daniel. O problema é que a busca pelo recurso vital muitas vezes exige que as pessoas passem por áreas de risco, para onde as minas podem ter sido deslocadas.
“Em todas as circunstâncias, em Derna, não é permitido usar água potável comum porque a sua percentagem de contaminação é muito elevada”, disse o diretor do Centro Nacional de Controle de Doenças da Líbia, Haider al-Sayeh.
A Líbia está em turbulência desde a queda do ex-líder Muammar Gaddafi, com o país dividido. De um lado, o Governo de Acordo Nacional reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) e baseado na capital Trípoli. Do outro, as forças do general Khalifa Haftar, líder do autoproclamado Exército Nacional da Líbia, que controla as áreas leste e sul da nação rica em petróleo.
Quando as tropas de Haftar apoiadas pela Rússia abandonaram suas posições em junho de 2020, deixaram para trás minas antipessoal proibidas, incluindo dispositivos explosivos improvisados (IEDs) que podem ser involuntariamente ativados por civis.
Segundo levantamento divulgado em abril de 2022 pela ONG Human Rights Watch (HRW), até aquele momento, 130 pessoas haviam sido mortas pelos explosivos mesmo em áreas onde as hostilidade já haviam se encerrado. Agora, devido à força da correnteza, muitas minas podem ter mudado de lugar, chegando a áreas onde antes era seguro caminhar.
Enchente devastadora
No sábado (16), o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) informou que cerca de 11,3 mil pessoas morreram em virtude da enchente. Os números, porém, são imprecisos, tanto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz ter confirmado até agora 3.922 mortes.
Ainda segundo o Ocha, o desastre deslocou 40 mil pessoas no nordeste do país, enquanto a mídia local fala em 891 edifícios destruídos.
Uma investigação foi iniciada para apurar o que causou o rompimento de duas barragens pela chuva, potencializando a tragédia. O ministro Osama Hammad, que lidera as apurações, diz suspeitar de que o dinheiro destinado à manutenção das barragens foi mal utilizado.